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Críticas

Pacific

Um clássico contemporâneo

Por Luiz Joaquim | 19.08.2011 (sexta-feira)

O Recife será a primeira cidade no Brasil a estrear, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, o longa-metragem “Pacific”, do pernambucano Marcelo Pedroso. Depois de dois anos com uma bem recebida carreira em festivais de cinema no Brasil e no exterior, o trabalho produzido pela Símio Filmes chega ao espectador do circuito comercial ainda fervendo de provocações estéticas, éticas e sobre escolhas para nossa própria vida. Estas mesmas, que já estimularam tantos debates, agora podem gerar novas discussões pelo público leigo.

A premissa para a construção do filme nasceu de um artifício a princípio simples, mas que viria a perturbar Pedroso durante o processo de montagem, em função de uma particular inquietação ética quanto ao uso de imagens íntimas e alheias, mesmo tendo todas elas sido autorizadas pelos seus realizadores.

Todas as imagens vistas em “Pacific” foram captadas por turistas num navio no final de 2008. Estavam num cruzeiro saindo do Recife em direção ao arquipélago de Fernando de Noronha. A viagem, de alto custo, foi financiada por vários destes turistas como um presente dos sonhos, dado a si mesmo. No percurso, todos eles estão submetidos a uma programação de entretenimento pautada pela agenda do cruzeiro. Nesse ambiente, testemunhamos, pelas filmadoras dos próprios turistas, seus comportamentos, reações, brincadeiras (encenadas ou não), desejos e anseios.

Um detalhe importante: a produção de “Pacific” não induziu nenhuma captação. Eles abordaram os turistas apenas ao final do cruzeiro, pedindo para usar aquelas imagens que eles registraram espontaneamente durante a viagem.

Para além da ontologia do cinema, que “Pacific” alimenta com fortes proteínas em função de sua estrutura vastamente discursiva e estética, Pedroso quer também entender aspectos das relações humanas nos dias de hoje. E o faz muito bem. São diversas as cenas que levantam tópicos sobre nossa forma de “aproveitar” a vida e nosso vínculo com a tecnologia e a imagem mediada/midiática.

Numa cena específica, por exemplo, em plena contagem regressiva numa festa de Rèveillon no navio, um casal registra, com sua pequena filmadora, seu beijo de ano-novo, mas eles não se olham. Olham para a câmera. Esta é apenas uma das dezenas dos motes que “Pacific” levanta para pensarmos em nossa posição no mundo de hoje. Posição cada vez mais intermediada e exposta não apenas sem pudor, mais agregando também um estranho prazer nesta exposição.

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