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Festivais

35a. Mostra (2011) – dias 1 e 2

O meta-cinema em questão

Por Luiz Joaquim | 23.10.2011 (domingo)

SAO PAULO (SP) – Dois filmes com algo em comum, mas objetivos distintos, chamaram bastante atenção no primeiro fim de semana da 35a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Isto Não É um Filme”, do iraniano Jafar Panahi, e “Pater”, do francês Alain Cavalier.

O primeiro é um grito de desespero do cineasta iraniano que foi impedido de filmar por 20 anos, além de ser condenado a seis anos de prisão pelo regime de seu País. A causa: por ter praticado atividades contra a “segurança nacional e propaganda contra o regime”, depois de ter iniciado a filmagem de uma obra sobre os distúrbios que se seguiram à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009.

A sentença foi publicada há oito dias, mas o processo é de meses, e “Isto Não É um Filme” é o registro do cotidiano vivido por Panahi (de “O Círculo”, Leão de Ouro em Veneza 2000) em seu apartamento, em Teerã, transformada numa prisão domiciliar, de onde não pode sair

Desesperado, convida seu amigo, também cineasta Mojtaba Mirtahmasb, para filmá-lo ali tentado encenar um filme que gostaria de fazer. Com fitas adesivas no chão da sala, ele sugere um cenário, e com seu iPhone mostra imagens da locação que pesquisou. Logo a idéia lhe parece boba: “Se posso narrar um filme, então porque iria filmá-lo”, diz, sofrendo, o condenado.

A partir de imagens de seus filmes anteriores, Panahi mostra numa TV que só depois de pronto um filme serve ao debate, e que há circunstâncias em que é o ator ou o próprio cenário que ‘dirige’ o filme. Nessa pequena aula de cinema, o que sobra ao espectador é constatar a dor de um artista privado do que lhe é vital: filmar. Ao fim, involutariamente ou não, Panahi nos dá uma bela obra (que exibiu em Cannes e Veneza 2011) sobre o próprio cinema e sobre a tirania estúpida de seu País, tão bem resumida por sua advogada ao telefone: “Não é uma questão de justiça, mas sim de política”.

Já em “Pater”, o meta-cinema serve para Cavalier fazer um comentário sobre a postura política francesa. Aqui, o espectador é testemunha, por uma câmera empunhada por Cavalier (que interpreta um presidente francês), de seu convite a Lindon para atuar como o Primeiro Ministro da França. Entre histórias reais, na residência dos dois, e histórias inventadas, as próprias opções cinematográficas e políticas (como a criação da lei do salário máximo) se entrecruzam e criam um filme intrigante. Conta-se que “Pater” foi aplaudido de pé este ano em Cannes por 15 minutos.

Outro bastante procurado foi “Um Mundo Misterioso”, do argentino Rodrigo Moreno (competiu em Belim), que acompanha Boris (Esteban Bigliardi) pelas ruas de Buenos Aires após levar um fora da namorada. Absolutamente sem rumo, Boris lembra Julio Andrade em “Hotel Atlântico”, de Suzana Amaral. Diferença é que aqui o personagem está ainda mais à deriva, sob o fluxo do urbano que lhe cerca. Outro destaque, cuja primeira exibição acontece na sexta-feira é “Dez Invernos”, do italiano Valerio Mieli. Um filme preciso e tocante sobre os desencontros do amor, e sua capacidade de permanência.

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