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Entrevistas

Entrevista: Walter Carvalho (Raul)

É preciso estar atento ao acaso

Por Luiz Joaquim | 22.03.2012 (quinta-feira)

A partir de amanhã São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife conhecerão a compilação de informações transformadas em um envolvente documentário feito por Walter Carvalho sobre o cantor Raul Seixas (1945-1989). O filme “Raul: o Início, o Fim, o Meio” chega ao cruel mercado exibidor com 32 cópias de olho não apenas nos fãs deste ídolo, que é considerado o primeiro e mais autêntico roqueiro brasileiro, mas também para atrair a qualquer curioso sobre um pouco da história musical do País na segunda metade do século passado. De um hotel em São Paulo, onde estava para lançar o trabalho, Walter concedeu entrevista, por telefone, a Folha de Pernambuco. Celebrado como fotógrafo de filmes, como “Central do Brasil” e “Lavoura Arcaica”, e de todos os longas de Cláudio Assis, o realizador tem uma crescente carreira também como diretor. Walter inicia a conversa destacando o interesse em contar a história do “Maluco Beleza”, um projeto notadamente diferente de seus documentários anteriores: “Janela da Alma” (2001) e o pessoalíssimo “Moacir Arte Bruta” (2006). Acompanhe.

“Raul” é um trabalho de perfil bastante diferentes dos seus documentários anteriores. Você foi convidado a fazer o filme? O que o fez aceitar?

O tema era muito interessante. A história de Raul e o que estava em torno de sua obra e trajetória era um tema muito bonito. Isso foi definitivo. E o fato de sermos contemporâneos também. Ele era apenas dois anos mais velho que eu. Há uma riqueza no legado deixado por ele, que eu conhecia pouco, e essa riqueza só fazia aumentar na medida em que pesquisávamos. Revisitar aqueles momentos foi também revisitar um pouco algumas coisas que vivi.

Impressiona o volume de imagens de arquivo e fotografias que aparecem no filme. Quanto tempo levou para reunir todo esse material e para encontrar os entrevistados?

Filmamos tudo durante um ano, mas não de uma vez. Foi preciso programar etapas de filmagens uma vez que tínhamos entrevistas a fazer em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Suíça e Estados Unidos. Demandou muito tempo. Mas não tanto quanto para a montagem do filme. Aí foram um ano e meio mergulhado na edição.

A propósito da montagem, há ali algumas brincadeiras bem espertas. Uma delas mostra Paulo Coelho (parceiro de composição de Raul no início dos anos 1970) comentado sobre a briga de egos que um tinha do outro quando moravam junto. Logo depois a imagem corta para os galos de briga de Cláudio Roberto (outro parceiro musical de Raul). Como foi pensada a esta sequência?

(Risos) Aquela sequência foi à seguinte: eu tinha lido que o Cláudio Roberto, o “maluco beleza”, morava em um sitio em Miguel Pereira (RJ) e lá criava galos selvagens. Naturalmente registrei. Depois, na hora da montagem, pareceu bacana a ideia de criar um embate simbólico entre o Paulo e o Raul, mas também entre o Cláudio e Paulo, como se disputassem pelo título de melhor parceiro artístico do Raul. Montei com o Pablo Ribeiro, com quem trabalhei em todos os meus outros filmes.

Há um momento genial em um depoimento de Paulo Coelho, em Genebra, que uma mosca atrapalha sua fala. A insistência do inseto remetia à canção “Mosca na Sopa”, na qual a letra diz, “não adianta me dedetizar”. Ali foi o acaso atuando?

(Risos) Eu digo que o documentarista precisa da mesma sorte do goleiro na hora do pênalti. Naquele comentário do Paulo, eu acertei três pênaltis de uma vez só. O acaso tem essa importância. O que acontece é que você tem de estar atento para saber potencializar este acaso.

Todo produtor reclama das dificuldades de fazer um documentário sobre uma personalidade que já faleceu. Questões envolvendo direitos autorais ou direito de imagem sempre atrapalham bastante. Como foi sua experiência nesse sentido?

A parte internacional dos direitos autorais representa mais de 25% do custo total do filme. É claro que há uma grande volume das música de Raul no filme, e isso tem um volume alto de custo, mas, proporcionalmente, a imagem de Elvis Presley (no filme “Balada Sangrenta”, de 1958, que abriu a cabeça do menino Raul para o rock) foi muito mais oneroso. Na verdade eu acho isso normal. Faz parte do mercado, essas negociações. Ter as imagens do “Balada Sangrenta” no filme era essencial para mim. Permitiu também fazer outras brincadeiras na montagem.

Além do filme “Heleno”(diretor de imagem), em que Rodrigo Santoro interpreta o lendário jogador do Botafogo, e tem estreia dia 30, que outras novidades do Walter Carvalho devemos esperar. Em que novos projetos você está diretamente envolvido, seja como fotógrafo ou diretor?

Bom, acabei de filmar com Antonio Carlos Nóbrega. Ainda tem mais uma sequência pelo caminho a ser rodada no Recife e depois vamos parar para montar. Ele será um “metadocumentário” (risos), tem ficção pelo meio também. Eu dirijo e um garoto do Rio de Janeiro, Thiago Tambelli faz a fotografia.

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