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Festivais

45º Brasília (2012) – noite 5

Mascaro e Gomes lançam filmes

Por Luiz Joaquim | 24.09.2012 (segunda-feira)

BRASILIA (DF) – Não havia outro assunto em maior destaque na noite de sexta-feira no 45o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro que não fosse Pernambuco. Com a première nacional do documentário em longa-metragem “Doméstica” (o quarto de Gabriel Mascaro, 28 anos), e da ficção “Era Uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes, a plateia foi tomada pela perspectiva dos realizadores que além de atualizar questões contemporâneas de uma mulher contemporânea no Recife (por Gomes), experimentou uma riquíssima problematização sócio-cultural no Brasil na relação patroa e empregadas domesticas (por Mascaro).

Na verdade, o genial dispositivo que Mascaro bolou para compor seu “Domestica” abre um leque de reflexões também imenso no campo cinematográfico. Oferecendo equipamento e dando coordenadas para adolescentes filmarem suas domésticas por uma semana. Depois, ele próprio (ao lado de Eduardo Serrano) montou os momentos que dão corpo ao longa, fazendo do documentário um produto com diversas camadas de leituras, seja por questões de autoria, seja pela legitimidade de depoimentos impregnados por uma relação de poder previamente dada.

Para além de elucubrações estéticas e teóricas, Mascaro fez um filme delicado e envolvente, pelo qual qualquer um pode rir e chorar. É um filme (assim como “Pacific”, de Marcelo Pedroso) pelo qual temos um reflexo muito interno, de dentro, e íntimo das relações na classe média brasileira, só que aqui ainda revelando ecos de “Casa-Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre. No meio disso tudo, Mascaro teve o talento de administrar a construção do ‘humano’ nestas relações, e nos brindar com personagens que transcendem qualquer pré-conceito, nos oferecendo verdades universais.

Já a “Verônica” de Gomes reforçou a inteligência do diretor em compor e controlar imagens, em construir personagens complexos e em conduzi-los numa problemática dentro de um contexto no qual a geografia é determinante para o estado de espírito desse personagem. No caso, em “Verônica”, o lugar é o Recife de hoje e a protagonista (Hermila Guedes, ótima) é resultado, também, desse ambiente.

Numa inicial carreira como psiquiatra e trabalhando num hospital público, ela convive em casa só com o pai adorado e doente (W. J. Solha); alem de suas dúvidas a respeito da afetividade para com outros homens. Ao mesmo tempo, Verônica leva sua vida sexual ativa e livre, mas esta é uma postura que também lhe confunde. De um modo geral, como disse a co-produtora Sara Silveira (ao lado da Rec Produções) este é um “filme mais fácil” e está numa outra escala de provocações diferentes de trabalhos como “Cinema, Aspiras e Urubus” (2005) e “Viajo Porque Preciso, Volto porque Te Amo” (2009), ambos de Gomes.

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