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Livro: Alegorias do Subdesenvolvimento

Leitura para gente grande

Por Luiz Joaquim | 03.12.2012 (segunda-feira)

O efeito de rever uma obra-prima do cinema, como foi possível fazer por várias vezes semana passada durante o 5º Janela Internacional de Cinema do Recife, é o mesmo de reler um grande livro. E o aprendizado é ainda maior se uma nova edição da brochura vem acompanhada por prefácio e posfácio atualizados pelo autor. A editora Cosac Naif nos disponibilou-se este prazer quando, na última semana de outubro, pôs nas livrarias “Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal” (480 págs., R$ 59), de Ismail Xavier.

Para quem não entende a potência do nome Ismail Xavier na história do cinema brasileiro contemporâneo, basta identificá-lo como, talvez, o mais respeitado acadêmico em atividade em seu País que pensa o cinema nacional. Sobre “Alegorias…”, que volta a nós quase duas décadas após sua publicação original em 1993, basta dizer que representa a junção da tese de doutourado de Ismail, defendida na Universidade de Nova Iorque, com sua tese de livre-docência da Universidade de São Paulo.

Quando veio ao mundo, “Alegorias…” se propôs analisar profundamente oito títulos nacionais produzidos entre 1967 e 1970, a saber, “Terra em Transe” e “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha; “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla; “Brasil ano 2000”, de Walter Lima Jr.; “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade; “O Anjo Nasceu” e “Matou a Família e Foi ao Cinema” de Júlio Bressane; e “Bang Bang”, de Andrea Tonacci.

Com a ideia de “alegoria” desenvovida em função das obras, Ismail põe em prova aspectos do período de realização dos filmes, como luta de classes, ditadura, os tipos sociais, o subdesenvolvimento e, principalmente, as pontuações autorais dos cineatas e como elas promoveram reflexões sobre o assunto “identidade nacional”.

Para quem já conhece o livro original muito bem, o prefácio à esta segunda edição é particularmente atraente pela atualização deste último assunto feita pelo autor. Nela, Ismail faz uma relação entre a busca de um intervenção política feita por aqueles filme antigos com alguns títulos do tempo presente.

Ele explica que tal busca no cinema brasileiro de hoje “não desapareceu, mas se deslocou, incorporando formas variadas de ceticismo, uma dúvida quase sistemática que reforçou o debate em torno das condições que tornam possível (ou impossível) tal intervenção, e resultam no encaminhamento dos projetos e na composição dos filmes”.

O autor chama a atenção para o fato de que, em alguns casos, os títulos contemporâneos se afastam de fórmulas consagradas e “em seu ponto-limite, compõem um cinema mais agressivo na experimentação cuja presença é rarefeita nas salas de cinema”. Para Ismail, esta nem é a razão pela qual tais filmes gerem hoje menos impacto do que seu congênere dos anos 1960-70. Há hoje, ele explica, uma conjuntura nacional e política que “abafaria” a polêmica ali contida. E Ismail é preciso ao destacar que a presença quantitativa timida destes filmes nas salas de cinema é menos danosa a eles (aos filmes) do que lhes é a conjuntura sócio-cultural de hoje.

No posfácio do livro, o autor resgata ainda o conceito de “alegoria” sob óticas diversas (mitológica, terminológica, etc.); e a nova edição ainda traz texto de orelha da crítica de arte Sônia Salzstein e quarta capa do crítico de literatura e músico José Miguel Wisnik. Eles desdobram a reverberação do pensamento de Ismail para diversas áreas da cultura brasileira.

Serviço:
Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal, de Ismail Xavier
Cosac Naif
480 páginas
R$ 59

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