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Festivais

6º Janela (2013) – dia 1

Irreverência que engatilha a liberdade e o amor

Por Luiz Joaquim | 11.10.2013 (sexta-feira)

Em 2013 poucos devem discordar que não se educa com pancada, mas com bons exemplos. A assertiva do “bom exemplo” ajuda a ilustrar dois projetos virtuosos que o recifense poderá conferir hoje. Um é a sexta edição do Janela Internacional de Cinema do Recife, festival que segue até 20/10, e o outro é “Tatuagem” (Bra., 2013), o primeilo longa-metragem de ficão dirigido por Hilton Lacerda. Sendo também este o principal título da noite de abertura logo mais, às 21h30, do Janela, no cine São Luiz (ingressos R$ 4 e R$ 2).

Em sua aula, a “pancada” que o 6º Janela não dá no seu aluno (espectador) é a de lhe empurrar goela abaixo filmes medíocres e/ou cansados. O exemplo que dá é o oposto a isto. Além de trazer ao Recife obras fresquinhas e desafiadoras ao bom raciocínio da linguagem cinematográfica, inclui-se numa discussão que a sociedade civil local comprou para si.

Ela diz respeito a preservação da cidade como um grande monumento integrador de sua cultura. Na mesma sessão de “Tatuagem”, o exemplar concreto disto está na exibição do curta-metragem “Censula Livre”, de Ivan Cordeiro (leia matéria abaixo).

Sobre “Tatuagem” – filme que inclui no seu escopo uma história de amor entre dois homossexuais masculinos -, a “pancada” que Hilton nos poupa sofrer é a de termos de receber esta história como uma imposição. Seu bom exemplo, no caso, vai em direção diametralmente distinta ao do imperativo. Hilton aqui nos faz acreditar nela. E nada mais eficiente para aceitar uma realidade mal conhecida do que compreendê-la em suas sutilezas.

Para situar esse romance proibido entre o cabeça do grupo teatral anárquico “Chão de Estrela”, Clécio (Irandhir Santos), e o adolescente Fininha (Jesuíta), que acaba de ingressar no quartel, “Tatuagem” se cerca de uma enorme volume de elementos técnicos e criativos. Juntos e bem colados, eles formam aquilo que conhecemos como arte. Nem tanto importando em suas funções específicas como direção de arte, música, fotografia, roteiro, etc., mas por todas elas comungando e gerando o fundamental numa obra assim: a emoção, comoção, que provoca transformação.

Ao redor deste discurso humano e cinematográfico tão ricamente elaborado por Hilton, o cineasta nos envolve em seu filme na ilusão de que estarmos no final dos anos 1970, no momento em que o real grupo “Vivencial” da Olinda daquela década gritava para quem quisesse ouvir palavras de amor, liberdade e poesia; sempre regadas pela irreverência cênica. Nada mais necessário e atual do que escurtarmos isto hoje também.

Censura Livre
Antecedendo a projeção de “Tatuagem”, o Janela exibe na mesma sessão das 21h30 a versão digitalizada para o formato DCP, com qualidade 2K, do curta-metragem “Censura Livre”, de Ivan Cordeiro. Realizado entre 1979 e 1980, quando Ivan tinha apenas 19 anos, o filme resnasce agora num momento de consonância com uma inquietação popular no Recife sobre preservação patrimonial.

Com a exibição do filme, o Janela acerta não um alvo, mas dois. O primeiro está no melancólico objeto de “Censura Livre”, que são as salas de cinema daquela época fechando e vindo abaixo para dar espaço a supermercados – servindo de espelho para o que a cidade vivencia hoje.

O segundo alvo é exatamente chamar a atenção para a quantidade de tesouros esquecidos da cinematografia pernambucana porque simplesmente não uma política mais firme no que tange a preservação do audiovisual no Estado.

Em entrevista coletiva semana passada, o curador Kleber Mendonça revelou que fazer a transposição do filme para o digital custou apenas R$ 3 mil. “Só por isto, este filme pode ganhar uma nova vida para exibição por talvez mais 20 anos”, afirmou. O detalhe é que o curador só tomou conhecimento da cópia de “Censura Livre” por acaso, e em Los Angeles (EUA).

“Fui lá exibir -O Som ao Redor- na Universidade da Califórnia e Ivan, que reside lá há 30 anos, me apareceu na frente se apresentando. Por um felicidade seu filme está num estado de conservação bom, uma lógica própria de quem trabalha com cinema naquele lugar”, ponderou.

Em tempo
SPIKE LEE – Antes da sessão de “Censula Livre” e “Tatuagem”, uma outra, às 18h30 (também no São Luiz) acontece. Ele apresenta o primeiro de 11 clássicos propostos pelo evento. O filme de hoje é aquele que deu fama internacional para Spike Lee, “Faça a Coisa Certa” (1989), sobre a tensão social e racial num bairro pobre de Nova Iorque.

CLÁSSICOS – Os outros clássicos deste Janela são “A Lira do Delírio”, de Walter Lima; “A Mosca”, de David Cronenberg; “Era Uma Vez no Oeste”, de Sérgio Leone; “Monty Python, O Sentido da Vida”, de Terry Jones e Terry Gilliam; “Metropolis”, de Fritz Lang; “O Bebê de Rosemary” de Roman Polanski; “Os Embalos de Sábado à Noite”, de John Badham; “O Último Imperador” (em 3D), de Bernardo Bertolucci; “Se…”, de Lindsay Anderson; e “Um Tiro na Noite”, de Brian de Palma.

PROGRAMAÇÃO fim de semana

SEXTA (11-10)
São Luiz
18h30 – Faça a Coisa Certa, de Spike Lee (120min/14 anos)
21h30 – Censura Livre, de Ivan Cordeiro (PE, 28min / LIVRE)
Tatuagem, de Hilton Lacerda (PE, 110min/16 ANOS)

SÁBADO (12-10)
São Luiz

14h- Dissenso. Programa curtas
16h30- O Ato de Matar, de Joshua Oppenheimer
19h45- Gatinha Estranha, de Ramon Zürcher
21h40- Curtas Tomada única / Cinema de Desbunde
22h30- Os embalos de sábado à noite, de John Badham

Cinema da Fundação
15h30- O último imperador (3D), de Bernardo Bertolucci
19h30- Curtas – Brincando com Fósforo
21h – Curtas – A Vida nem sempre é como num filme

DOMINGO – (13-10)
São Luiz
15h- Era uma vez no oeste, de Sergio Leone
18h15 – O Lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra
20h30- Curtas – Câmera Escura

Cinema da Fundação
15h30 – Curtas – Lutas Corporais
17h – Curtas – Do ponto A ao ponto B
18h30 – Curtas – Experiências fora do corpo
20h – Curta – Censura Livre, de Ivan Cordeiro
20h40 – Gatinha Estranha, de Ramon Zürcher

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