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Revista para que?

Edições impressas dividem razão de existir com plataforma virtual

Por Luiz Joaquim | 15.06.2014 (domingo)

A discussão já nem é mais recente. Há pelo menos cinco anos, iniciativas de publicações no campo da cultura em versão digital vêm surgindo em números imensamente maior que a de revistas no mesmo âmbito discursivo na versão impressa. Tal movimento, progressivo pela mão da Internet, não segue o mesmo ritmo quando o suporte é o papel.

Pelo contrário, no ano passado, por exemplo, só pela editora Abril, quatro revistas deixaram de ser publicadas. Entre elas a cultural “Bravo”, prestes a completar 15 anos de respaldo. A justificativa dos empresários passa pela combinação entre baixa adesão de anunciantes às edições de cultura ou arte, somado ao alto custo da impressão, incluindo distribuição do produto de papel. Sendo assim, por qual motivo, ali ou acolá, publicações impressas insistem em nascer.

Para o editor Carlos Gomes, que lança hoje (veja matéria abaixo) a revista em papel “Outros Críticos” – interessada na cadeia produtiva musical – a nova publicação deve funcionar como um registro físico no qual será compilado o que de melhor há no blog que alimenta. “No blog [vivo desde 2009], os artigos vão ficando para trás à medida em que ele vai sendo alimentando. Com a revista de papel, que também trará uma matéria de capa inédita, produzida especificamente para ela, estes textos antigos voltam a ter um novo lugar de acesso”, contextualiza.

Ainda sobre conceber uma revista impressa em 2014, Carlos faz uma analogia: “Se a gente pensa na volta do vinil como um valor simbólico, artístico, a gente entende que uma revista valoriza, materialmente, um trabalho que foi produzido para o meio digital”, explica. E conclui: “Se no digital ajuda na disseminação da informação de forma veloz, quase como uma epidemia, no caso do impresso essa disseminação é a longo prazo”, defende.

Um outro Carlos, este o crítico Alberto Mattos, ex-editor da revista Filme Cultura – cuja última edição impressa foi lançada em dezembro de 2013 – reforça tal importância lembrando que uma publicação em papel, por ser algo concreto, faz com que você quase tropeça nela. “Enquanto que, só na rede, temos de tomar a iniciativa de ir lá acessá-la. É preciso ainda pensar nos usuários que não tenham familiaridade com a leitura online”, destaca.

Tendo sido provavelmente no Brasil a mais longeva e importante revista no campo cinematográfico, a “Filme Cultura”, nasceu em 1965 e seguiu até 1998, sob responsabilidade da estatal Embrafilme. Voltou a surgir em 2010, sob os cuidados do também governamental CTAv. “No caso, além da versão online, imprimir a -Filme Cultura- era quase um fetiche, considerando a tradição da revista, que inclui, entre seus consumidores, estudiosos e bibliotecas”, diz Carlos Alberto.

Sobre o fim da revista cuja tiragem era de 4.000 unidades, o crítico lembra que seus recursos eram oriundos de editais, sendo a Petrobrás seu patrocinador. Cada edital previa seis edições trimestrais. “Aconteceu que no período de transição da gestão de Leopoldo [Nunes, no MinC] para Marta [Suplicy], não houve um movimento para renovar o projeto e inscrevê-la num outro edital garantindo novas edições”, explica.

No caso da “Bravo”, fruto de um empresa privada, seu ex-editor-sênior e redator-chefe, Armando Antenore, comentou em agosto passado que a gradual perda de leitores na versão impressa diante do avanço ao acesso digital e o relativo baixo número de exemplares vendidos mensalmente (por volta de 28 mil entre assinantes e compradores em bancas) ajudaram na decisão da editora.

Tendo muito claro em suas cabeças aonde querem chegar, o jornalista Schneider Carpeggiani e a designer Jaíne Cintra, nem titubearam ao lançar em novembro a revista “Césarea” – voltada para literatura – apenas em versão digital. “Entendo a intenção do -Outros Críticos-, que procura um lugar para pensar fora da grande mídia. Mas, neste caso, o texto em papel tem de ser algo mais do que querer fazer escutar uma música, uma vez que hoje o leitor na internet pode ouvi-la ou ver um clip enquanto lê uma resenha de música”, conclui.

TRADIÇÃO – O Centro Técnico Audiovisual (CTAv), do Ministério da Cultura (MinC) relançou em 2010 a lendária revista “Filme Cultura”. Criada em 1965, a publicação circulou até 1988. Foram 48 edições, sendo a 49ª uma edição especial publicada em 2008. Ela voltou às bancas a partir do número 50. Numa primeira leva, foram seis novas edições (até a 55) e depois da 56 a 61, lançada em dezembro último.

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O espaço Orbe Coworking (Av. Dantas Barreto, 324, 8º andar, Recife) reúne às 19h de hoje para um bate-papo sobre a cena musical gente como Renato L., Jeder Janotti Jr. e Rodrigo Édipo. Até aí nenhum novidade, uma vez que o Orbe vem se consolidando, desde agosto do ano passado, pelo seu happy-hour reflexivo, reunindo gente que tem o que dizer sobre cultura e comportamento no Recife. O encontro de logo mais, entretanto, acontece com um plus igualmente atraente. Vem embalado pelo lançamento da revista impressa “Outros Críticos”.

Com uma tiragem de 300 cópias, e possibilitada pelos recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), a revista editada por Carlos Gomes será trimestral e deve incluir sempre uma matéria de capa inédita. “No blog, a cada seis edições, lançávamos uma pergunta e nessa publicação chamada -Pq?-, acabou sendo um experimento para o que viria a ser a revista impressa”, recorda.

Mesmo tendo como interessa a música e seus assuntos derivados, Carlos conta que a revista deverá dialogar com outras expressões. Nesta edição de Janeiro com o assunto “Cenas musicais”, encontra-se artigos de Germano Rabello (jornalista e músico), Bernardo Oliveira (Blog Matéria), Rafael de Queiroz (MI) e de Carlos Gomes, editor da publicação.

Na seção Crítica de boteco”, textos dos convidados Caio Lima (Rua) e Ricardo Maia Jr. (Ex-Exus). “Já em -Opinião-, temos depoimentos de DJ Dolores, Zeca Viana, Renato L., AD Luna, entre outros, que trouxeram diferentes reflexões sobre o tema que abordamos”, adianta.

A revista ainda conta com entrevistas com Isaar e Aninha Martins, que falam sobre seus próximos lançamentos. As duas farão um show em conjunto no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do RioMar) nesta sexta-feira (17/01) às 20h. Ingressos no (www.ingresso.com).

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