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Críticas

Jogos Vorazes – A Esperança – Parte 1

Aos fãs, objetivamente

Por Luiz Joaquim | 20.11.2014 (quinta-feira)

Não se dê ao trabalho. Se você não leu nenhum dos três livros – “Jogos Vorazes”, “Em Chamas”, “A Esperança” – que compõem a série escrita pela roteirista de tevê norte-americana Suzanne Collins, ou se você não viu nenhuma das duas adaptações levadas aos cinemas em 2012 e 2013 dos livros iniciais, então não se dê ao trabalho de sair de casa para ver “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1” (The Hunger Games: The Mockingjay – Parte 1, EUA, 2014), novo produto da franquia que chega hoje aos cinemas do Brasil.

E chega com estardalhaço, anunciando que é o maior lançamento da história do País, tomando mais de 1.300 salas das cerca de 2.800 existentes no Brasil. Já deu para perceber também que o novo filme dirigido por Francis Lawrence (o mesmo do anterior “Em Chamas”) foi dividido em dois, com a “Parte 2” planejada para estrear 20 de novembro de 2015.

Em tempos pós “Senhor dos Anéis” e Harry Potter”, tal estratégia é a mais evidente a ser tomada pela produtora Lionsgate – com a distribuição no Brasil pela Paris Filmes – uma vez que entre o primeiro e o segundo filme do “Vorazes” seu publico pulou de 1,9 milhões para 3,5 milhões de espectadores. Lançar a adaptação do terceiro livro “A Esperança” em apenas um volume em 2014 seria simplesmente perder milhões de dólares.

Entendendo essa lógica simples que atende ao mercado e não ao cinema, fica um pouco mais fácil compreender a inutilidade do que é visto na maior parte dos 123 minutos mostrados nesta “Parte 1” nas telas. Inutilidade, que fique claro, especificamente dentro da narrativa cinematográfica deste “Esperança 1”.

Explicar a dica no início deste texto é fácil. O novo filme não está preocupado em contextualizar para o espectador desavisado o trauma de nenhum personagem, principal ou secundário; nenhuma circunstância dramatúrgica anterior ao que está se desenrolando na tela; ou nenhuma implicação do que pode acontecer no futuro caso a mocinha Katniss (Jennifer Lawrence, no automático) fracasse ou tenha sucesso em seu desafio. Em resumo, é um filme para o fã, ou para quem possui alguma intimidade com o universo criado por Collins. Eles são, em sua maioria, pré-adolescentes e adolescentes.

Sendo uma história de insurreição contra um futurista Estado ditador, o terceiro livro da série guarda seus momentos mais agitados para o confronto final e, sendo no cinema este livro dividido em duas partes, este “Esperança 1” chega capengua de sequências de ação. É precisamente só aos 50 minutos de projeção que temos a primeira cena na qual Katniss se vê em real perigo, fugindo de explosões, lutando contra o inimigo.

E a rápida sequência nem chega a ser um momento tenso, uma vez que Katniss esta num dos 13 distritos oprimidos pela Capital menos para lutar e mais para encenar para uma câmera de tevê. A imagem será usada como publicidade com Katniss servindo de inspiração. Ela é o símbolo – o que eles chamam de Tordo – escolhidos pela presidenta Alma (Julianne Moore) e Plutarch (Philip Saymour Hoffman) para atrair a simpatia dos oprimidos nos distritos e derrubar o governo do tirânico presidente Snow (Donald Sutherland).

Com a heroína traumatiza após passar pelo Massacre Quartenário do filme anterior, ela própria não tem interesse em tornar-se a Tordo. Mas o enredo então lhe oferece uma razão, lembrando-lhe que seu amigo Peeta (Josh Hutcherson) está vivo e sob o domínio do inimigo. Ela tem de salvá-lo, claro.

Antes dessa ação iniciar, conduzida xôxamente pela direção fria de Lawrence e o roteiro preguiçoso de Peter Craig e Danny Strong, o que temos é um produto burocrático ao se propor contar uma história pelo cinema. Seria mais preciso dizer que “A Esperança 1” está menos para o cinema e mais para um audiobook, cuja natureza é, pela narração de um locutor que lê o livro, tornar possível um deficiente visual usufruir das emoções deste livro.

Em “A Esperança 1” a imagem não tem espaço (quase não tem necessidade), predominando, enfim, o incessante e ininterrupto falatório explicativo dos personagens para todos seus sentimentos e todas as suas ações. É pobre, e cansa.

PARTICIPAÇÕES – O que Julianne Moore está fazendo num filme como “Jogos Vorazes: A Esperança 1”? Atendendo a um pedido de seus dois filhos, fãs da série.

DESPEDIDA – Philip Seymour Hoffman faleceu uma semana antes do final das filmagens. A maioria de suas cenas para os dois filmes já tinham sido realizadas. As sequências restantes foram concluídas com uma combinação de reescrituras, truques de câmera e efeitos especiais digitais. Isto poderá ser visto em “A Esperança 2”.

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