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Críticas

Shoah

Tratado audiovisual sobre a maior tragédia moderna

Por Luiz Joaquim | 29.11.2014 (sábado)

Em uma das memoráveis sequências do primeiro filme oscarizado de Woody Allen – “Noivo Neurótico, Noiva Neurótica” (1977) – seu personagem Alvy leva a namorada Annie (Diane Keaton) ao cinema para ver “A Dor e A Piedade” (1969), o tocante documentário francês que Marcel Ophüls realizou em 1969, com duração de quatro horas e 11 minutos, sobre o absurdo do holocausto. Apesar do assunto sério, Allen usou sua inteligência para fazer humor com sua cinefilia e particular interesse pelo massacre contra os judeus na Segunda Guerra Mundial ao arrastar sua namorada para uma sessão de cinema tão peculiar.

Se houver um “Woody Allen recifense”, ele poderá hoje imitar seu ídolo levando a namorada não para ver o longuíssimo filme de Ophüls, mas para uma experiência ainda mais radical que a Fundação Joaquim Nabuco dispobiliza a partir das 13h. É a sessão do documentário “Shoah” (1985), de Claude Lanzmann, também investigando o horror do holocausto. “Shoah” dura 566 minutos, o mesmo que nove horas e 26 minutos.

A ser exibido no formato Digital Cinema Package (DCP), está é a primeira vez que “Shoah” será projetado no Recife em versão restaurada num cinema. O filme chega por aqui a partir de negociação feita pelo curador Moacir dos Anjos e sua equipe da Coordenação de Artes Visuais na Fundaj com intermedio do Consulado da França, além da colaboração do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, que disponibilizou as legendas em português.

Para Moacir, “Shoah é uma aguda reflexão sobre o genocídio de milhões de judeus pelo regime nazista, e uma tentativa de traduzi-lo em filme sem utilizar uma única imagem sequer de arquivo, o que o torna uma experiência radical e única de cinema documental”, destaca.

Para “reencarnar” a tragédia judaica, Lanzmann apropiou-se de dois métodos básicos para realizar seu filme: visitou os locais onde o crime contra os judeus aconteceram – campo de concentrações como Chelmno, Treblinka e Auschwitz-Birkenau, e o antigo Gueto de Varsóvia -, e captou entrevistas em 14 países com uma série de testemunhas entre sobreviventes e ex-nazistas.

Um dos depoimentos fundamentais aqui é o do barbeiro Abraham Bomba, fornecendo diversos estímulos que empurram o filme adiante em seu propósito. O barbeiro é visto várias vezes ao longo de “Shoah”, mas sua última aparição, falando enquanto corta o cabelo de um cliente numa barbearia em Tel Aviv, oferece um dos momentos mais comoventes do extenso documentário.

Sobre o filme, a filósofa francesa Simone de Beauvoir certaz vez declarou, “assistindo hoje a este filme extraordinário, nós nos damos conta de que não sabemos de nada. Apesar de todos os nossos conhecimentos, a experiência assustadora permanece à nossa distância. E, pela primeira vez, nós a vivemos na nossa cabeça, no nosso coração e na nossa carne”.

O projeto que resultou no filme, concluído em 1985, tomou 11 anos de dedicação solitária de Lanzmann. Quando estreou há 29 anos, recebeu uma saraivada de elogios na França. Já nos EUA passou a ser chamado de “obra-prima”, sendo anunciado então que, a partir dele, uma nova consciência estaria sendo aberta sobre o maior mal que os tempos modernos tinha gerado.

INGRESSO – Para a sessão das 13h de hoje (Parte 1 do filme, com 5 horas de duração), a bilheteria do Cinema da Fundação estará vendendo ingressos entre 12h30 e 14h (ingresso a R$ 10 e R$ 5, que valerá para as Partes 1 e 2). Nesta Parte 1, haverá um intervalo de 10 minutos a partir das 16h. Uma segunda parada acontece às 18h10. A Parte 2 do filme (com 4 horas e 26 minutos) será retomada às 19h (bilheteria estará vendendo ingresso a partir das 18h para esta Parte 2). Haverá um intervalo de 10 minutos às 21h30. A sessão encerrará às 23h36.

REPRISE – “Shoah” terá uma segunda sessão em dezembro, dentro da 17º Mostra Expectativa / Retrospectiva do Cinema da Fundação. Ela acontecerá dias 09/12 (Parte 1, 300 minutos, às 18h30) e 10/12 (Parte 2, 266 minutos, às 18h30). Serão vendidos ingressos nos dois dias, mas os comprados para a Parte 1 também dão acesso a sessão da Parte 2.

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