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Críticas

Noite sem Fim

Em nome do sangue

Por Luiz Joaquim | 30.04.2015 (quinta-feira)

Mas que bela parceria tem se mostrado esta entre a estrela Liam Neeson e o diretor espanhol Jaume Collet-Serra! Chega hoje aos cinemas seu “Noite sem Fim” (Run All Night, EUA, 2015), com Neeson encarnando mais uma vez uma figura desacreditada que precisa provar que está certo e agindo para o bem do próximo, assim como foi o seu fugitivo com amnésia em “Desconhecido” (2011) e seu agente federal alcoólatra de “Sem Escalas” (2013).

Todos eles foram comandados por Collet-Serra, e todos eles são thrillers policias com tensão incessante, fazendo com que o cineasta tenha acumulado, aos 40 anos de idade, três títulos de respeito para seu currículo após ter passado por uma infrutífera tentativa de criar bons filmes de horror (“A Casa de Cera”, 2005; “A Órfã”, 2009).

Os êxitos de “Noite sem Fim” (péssimo título brasileiro) são diversos, a começar pelo elenco à vontade, principalmente na figura do veterano Neeson, como Jimmy, um capanga matador aposentado que trabalhou a vida toda para o criminoso Shawn (Ed Harris, em ótima forma). Já Shawn, hoje tenta manter-se longe da ilegalidade em Nova Iorque enquanto cuida de Jimmy como a um irmão.

Ambos pais de filhos da mesma geração, Shawn tem problemas com o impertinente e violento Danny (Boyd Halbrook), que quer voltar a traficar drogas, enquanto Jimmy não vê o filho Mike (o bom Joel Kinnaman, o novo “Robocop”) há no mínimo cinco anos. Mike, casado e esperando o terceiro filho, é um instrutor de boxe para crianças carentes, mas ganha o pão de cada dia como motorista de limusine. Num destes trabalhos, testemunha o assassinato de dois traficantes pelas mãos de Danny.

O crime coloca Mike na mira do ódio de Shawn, o que faz Jimmy finalmente unir-se a seu filho para defendê-lo da caçada que irá durar apenas uma noite, incluindo policiais corruptos, honestos (Vicent D Onofrio), e outros matadores profissionais (o ator Common). Uma das cenas chaves dessa história intriga por mostrar aqui uma situação difícil de se ver no cinema norte-americano. É a principal perseguição de carro do filme, com a viatura da polícia fugindo do carro do criminoso, e não o contrário.

A facilidade com que o irlandês Neeson veste o personagem Jimmy, assim como os outros nos filmes de Collet-Serra, nos faz pensar que o papel parece ter sido escrito por encomenda para ele. Jimmy é um fracassado, beberrão e cheio de remorsos pela vida criminosa que o fez matar mais de 16 pessoas, incluindo um parente. Revelação que nos é dada pela grata surpresa de rever Nick Nolte na tela, como o irmão de Jimmy. Neeson, entretanto, faz desse anti-heroi, desse fracassado, uma figura que nos suscita compaixão, talvez pelo seu zelo exasperado pela segurança da única coisa boa que fez vida, o filho Mike.

Com esses conflitos de sensações que Collet-Serra provoca no espectador, acaba saindo-se bem com “Noite sem Fim”, mesclando muito boa (e violenta) ação com questões humanas legítimas. Há apenas um excesso aqui. Trata-se dos virtuosismos digitais de movimentos de câmera, sobrevoando Nova Iorque, atravessando portões, cercas, casas, o que remeta a uma ideia falsa de movimento que tanto destoa dos movimento humanos dos protagonistas.

TALENTO – Noutra sequência chave, Shawn, cujo filho foi assassinado por Jimmy, fala para o ex-amigo numa restaurante que tudo aquilo só irá terminar com um novo encontro naquele mesmo lugar quando o filho de Jimmy for assassinado. Daí, Shawn poderá enxergar nos olhos de Jimmy o mesmo vazio que Jimmy, e nos espectadores, estamos enxergando naquele momento nos olhos de Shawn. É assustador.

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