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Reportagens

Um cara chamado Marcelo

Diretor vinculado ao ressurgimento do cinema local prepara dois longas

Por Luiz Joaquim | 19.05.2015 (terça-feira)

Foi uma boa surpresa ver na seleção do último Cine-PE: Festival do Audiovisual – encerrado há dez dias – o nome de Marcelo Pinheiro na lista de realizadores concorrendo no evento. E não apenas com um filme, mas dois. Eram os curtas “Bajado”, que oferece uma bela perspectiva sobre a criação do artista olindense Euclides Francisco Amância (1912-1996); e “Xirê”, que traçava a trajetória espiritual de um homem por meio da natureza e de sua ancestralidade africana.

A surpresa não foi constatar o talento de Pinheiro a frente destes filmes que, inclusive, saíram premiados do festival, mas sim reencontrar numa tela de cinema este realizador cuja história está intrinsecamente relacionada ao resgate do cinema pernambucano nos anos 1990 tanto quanto Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Marcelo Gomes, João Vieira Jr. e Adelina Pontual, só para citar alguns.

E o, digamos, retorno de Pinheiro ao cinema não deve parar por aí. Ainda no festival, o cineasta anunciou o desenvolvimento de dois projetos que devem resultar em longas-metragens. Um deles, intitulado “Na Contramão”, é na verdade um documentário vinculado ao programa “Brasil de Todas as Telas”, lançado pela Ancine para estimular produção de conteúdo para tevês públicas.

“Sera uma minissérie com três episódios, cada um com 24 minutos de duração, mas aqui queremos experimentar e aproveitar o material para formatar um longa-metragem”, adianta Marcelo, que deve se concentrar na pré-produção no próximo mês e iniciar a captação de imagens no início do verão.

“Vamos abordar a transição do sertão arcaico para o moderno. A perspectiva será a de um jumento, animal fundamental para o desenvolvimento do sertanejo mas que hoje, substituído pela moto, vem sendo relegado ao esquecimento. Numa pesquisa, descobrimos que existe uma espécie de -campo de concentração- de jumentos no interior do Ceará com cerca de 30 mil animais esquecidos. Em outro lugar eles são trocados por galinhas”, adianta o realizador, que deve gravar imagens também em Pernambuco, Rio Grande do Norte e talvez Paraíba.

O outro projeto , a dramatização “Os Cravos Vieram do Mar”, nasceu em 2000 em conjunto com o amigo Amin Stepple. Resgata uma impressionante história política que envolve a ditadura salazarista de Portugal.

“Nosso personagem é o jornalista pernambucano Eunice Campelo. Em 1961, havia centenas de jornalistas cobrindo a chegada do maior transatlântico de então ao Recife. Era o Santa Maria, que aportava com 600 norte-americanos sob a condição de sequestrados por revolucionários anti-Salazar. Campelo foi o primeiro a entrar no navio. Uma vez lá dentro, aderiu à causa revolucionária e pediu demissão do jornal”, conta, entusiasmado, Marcelo.

O realizador confessa que, há 15 anos, talvez não tivesse maturidade para tocar um projeto tão audacioso como este, mas assume que se sente muito à vontade para fazê-lo hoje. A julgar pela qualidade do que mostrou no 19ª Cine-PE, Pinheiro não está exagerando.

Do metrô ao cinema
Tendo cursado a faculdade de engenharia por três anos e concluído o bacharelado de psicologia na Fafire, o realizador Marcelo Pinheiro ainda trabalhou como funcionário concursado do Metro do Recife. “Era o emprego que todos queriam, e fiquei lá dos 18 aos 22 anos, mas aí decidi que não ia ficar naquela por toda minha vida”, recorda.

“Nessa época conheci Paulo Caldas, Jomar [Muniz de Brito], Amin [Stepple] e reencontrei Lírio [Ferreira], que já conhecia do surf”, diz. “Saí do Metro em setembro em janeiro do ano seguinte já tinha uma produtora com Lírio na Galeria Joana D Arc e também produzíamos para a TV Pernambuco”.

Foi quando em 1989, Marcelo ganhou o prêmio de incentivo da Fundação de Cultura do Recife e fez seu debut no audiovisual com o curta “Defenestração da Condição de um Solteiro”. “Fizemos em VHS e tínhamos no elenco gente como Manoel Constantino, Carlos Carvalho, e Robson Duarte, que aparece em -Xirê-. O filme tinha relação com a alegoria da caverna, de Plantão. Era muito cabeça”, lembra sorrindo enquanto, em seu apartamento tomava um café, um dos prazeres do realizador.

Junto à Lírio, produziu “O Crime da Image” com recursos da Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme, extinta em 1990 por Collor de Melo). “Este foi o último dos últimos filmes com chancela da Embrafilme. Lírio conta que ia lá e os móveis já estava sendo retirados”. Depois viria “That s a Lero Lero”, também de Lírio, o desafio maior: a produção executiva de “O Baile Perfumado”.

“Digo que -O Baile…- foi minha pós-graduação. Hoje o contexto local é incrível. Tenho um filho que deve estudar cinema, e uma filha de 16 anos que já participou de quatro produções”, pontua.

Depois disso, Marcelo enveredou para a publicidade, construíndo um currículo gigantesco. “Isso me possibilitou estar sempre no set de filmagem, ambiente que adoro, além do mais, me manteve atualizado e muito íntimo da tecnologia, tendo acesso aos melhores equipamentos. Fiz mais de 40 documentários entre curtas e longas só para TV Futura e 52 programas de 30 minutos – o “Minha Vida É Minha Cara” – que veiculou por anos até 2014″, concluiu.

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