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Festivais

26º Cine Ceará (2016) – noite 3

Maresia e Salsipuedes. Um carioca audacioso e interessante, e um panamenho deslocado.

Por Luiz Joaquim | 11.07.2016 (segunda-feira)

19-jun-2016 (domingo)

LUIZ JOAQUIM*

FORTALEZA (CE) – A noite três (sábado, 18) deste 26o Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema acabou por tornar-se cansativa por conta de um atraso de uma hora e trinta minutos em função de uma homenagem a atriz Dira Paes, com seus mais de 30 anos de carreira.

Querida pelos cearenses, Dira lembrou da parceria com Rosemberg Cariry, que a dirigiu em Corisco e Dadá (1996), filme onde atuou ao lado de Chico Diaz (também homenageado este ano por aqui), tendo sido tal obra importante para a carreira da paranaense.

Por conta do atraso não houve o intervalo pensado para a programação que contemplava o curta cyber-punk cearense – Janaina overdrive -, de Mozart Freire, e os longas Maresias, que veio do Rio de Janeiro sob direção de Marcos Guttmann, e do panamenho Salsipuedes, de Ricardo Aguillar e Manolito Rodríguez.

No primeiro longa que assina a direção, Guttmann (que tem larga experiência em curtas, tendo sido também assistente de direção de Carlota Joaquina: Princesa do Brazil, 1994) foi audacioso, e relativamente bem sucedido, ao adaptar ao cinema Barco a seco, o quinto livro de Rubens Figueiredo, que lhe deu o prêmio Jabuti em 2002.

No roteiro coescrito por Guttmann, Melanie Diamantas e Rafael Cardoso, acompanhamos paralelamente a pesquisa de Gaspar (Julio Andrade), um contemporâneo especialista na obra de um obscuro artista plástico chamado Vega (também Júlio Andrade, num contexto de 50 anos antes).

Vega, um pobre pescador estrangeiro, libertário e beberrão, que vivia num pequeno barco, teria se tornado célebre com suas pinturas de paisagens do mar só após sua morte, ainda jovem. Já Gaspar, nos dias de hoje, é um órfão que tornou-se obcecado por Vega e, a partir da visita que recebe do velho Cabrera (Pietro Bogianchini, cuja voz de dublador de filmes estrangeiros é mais conhecida que seu rosto), estimula Gaspar a repensar tudo o que sabe sobre o artista.

Cabrera diz ter conhecido o artista na juventude e isso muda a perspectiva do jovem pesquisador. Nesse sentido, Maresia embarca o espectador numa investigação movida pelo especialista em busca da verdade sobre o tal misterioso artista.

Guttmann entretanto, não faz disso a principal seta de seu filme. Nas diversas alternâncias entre passado e presente, contando aos poucos a história desses dois homens solitários e interligados pela arte – Vega e Gaspar – , o diretor consegue manter a atenção também para razões humanas (ou seja, não apenas investigativa).

Parte desse mérito cabe à performance sob medida de Andrade, sempre bem, principalmente em personagens como estes, no limite de alguma dor não totalmente explicada.

PANAMA – o titulo panamenho neste Cine Ceará apresenta-se por aqui, até o momento, como o mais deslocado da seleção.

Interessante por revelar social e visualmente o lado suburbano na Cidade do Panamá, Salsipuedes, entretanto, mostra-se um carregado melodrama (no sentido negativo que isso sugere) sobre o garoto Andrés (Elmios Castillo, na fase adulta) que foi afastado da família, sendo levado a viver em Washington (EUA), e retorna já adulto para o funeral do avô.

Ao reencontrar o pai, um ex-lutador de boxe, famoso, e hoje criminoso foragido, Andrés decide manter-se na sua terra para resgatar sua história familiar.

Nada muito a falar além disso sobre Salsipuedes. Mistura de ação, romance, e melodrama – como que colocados num liquidificador e depois servidos para bebermos -, o filme não envolve, exatamente por ser raso nas motivações de seus personagens. Atores também não colaboram, sendo o protagonista Elmios aparentemente bastante dedicado a uma única expressão facial. Uma pena.

*Viagem a convite do festival.

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