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Festivais

9. Triunfo (2016) – curtas PE (1)

Curta “Black Out” tem sua primeira exibição pública em Triunfo (PE)

Por Luiz Joaquim | 11.08.2016 (quinta-feira)

TRIUNFO (PE) – É preciso elogiar o esforço da equipe que produz o Festival de Cinema de Triunfo (com coordenação geral de Milena Evangelista), chegando incrivelmente a sua 9a edição neste 2016. Mas é necessário também chamar a atenção para possíveis ajustes. Deixemos, entretanto, as observação após o final da edição, que encerra no sábado (13).

Por enquanto vale destacar que na noite de ontem (10/08), o festival apresentou ao mundo a primeiríssima exibição pública do curta-metragem Black out (foto acima), de Felipe Peres Calheiros (de Acercadacana, premiado no 43o Fest. Brasília 2010) co-assinado com Adalmir da Silva, Francisco Mendes, Jocicleide Oliveira, Sérgio Santos e Paulo Sano.

Com a lacônica sinopse que lhe explica ser “um filme sobre o invisível”, Black out quer chamar a atenção para a realidade de comunidades quilombolas, em particular em Pernambuco, que vive sem energia elétrica.

Entre a informação das condições limitadas da comunidade e a estrutura narrativa que a produção da obra definiu para contar essa história parece haver um espaço a ser preenchido, fazendo com que o curta-metragem não seja contemplado totalmente nem por uma nem pela outra ideia da provocação audiovisual.

A estrutura que sustenta Black out coloca numa roda de conversa realizador e viventes da realidade em questão num espaço que aparenta ser um estúdio de gravação, com a projeção numa tela dessa própria conversa em curso. Realizadores e depoentes analisam as próprias opiniões e como melhor montá-las para formar o filme que teremos – com o display de um software de edição servindo até de imagem para ilustrar tal construção.

O conceito participativo de explicitar a construção para um discurso em Black out é interessante, sem dúvida, mas como apresentado parece com pouco fôlego para sustentar a força de sua importância.

Como um elemento surpresa aqui, temos uma das imagens finais, nos revelando que o espaço que ocupávamos ali, o tempo todo, não era exatamente um estúdio de gravação.

CLAVE

Dentro do programa que abriu com Black out, exibiram outros três curtas, todos com algum histórico de circulação em outros festivais de cinema. Clave dos pregões, de Pablo Nóbrega; Ainda me sobra eu, de Taciano Valério; e Domingos, de Jota Bosco. O programa era o volume 1, desta edição, dedicado aos curtas pernambucanos.

Em Clave dos pregões Pablo nos oferece uma alegre e viva viagem pelo Recife e seu subúrbio, num resgate lírico-sonoro dos vendedores ambulantes que tem as ruas como seu ponto de venda.

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A simplicidade é a beleza destes profissionais/personagens, além de tudo o que representam, claro, pelo acumulo da cultura regional que os formam. Seja pela beleza da musicalidade em suas “propagandas” no grito enquanto caminham pelas ruas da cidade – nas vozes da vendedora de tamborete, de caldinho, da macaxeira -, seja pela dignidade e esforço físico desse trabalho – que fica claro quando temos o contraste do gigantismo da cidade e seus ruídos, ou já no final, quando o vendedor de macaxeira volta em silencio por vielas.

Só por isso, Clave dos pregões (e que belo título) já valeria. Mas Pablo e equipe se esmeraram num desenho de som primoroso e emocionante – que se fez presente e determinante aqui em Triunfo, ainda que o som do Cine Theatro Guarany não estivesse adequadamente calibrado.

Por esse desenho, os contrastes sonoros ganham evidência. Assim como a beleza e a poesia, linda destes vendedores/trabalhadores ambulantes. Um primor de filme.

No mesmo tom poético, mostra-se Ainda me sobra eu, com o também realizador Tavinho Teixeira (de Batguano) fazendo as vezes de performer único aqui. Isolado numa bela casa praiana, próximo a Barra de Cunhaú (RN), o personagem reflete sobre as repressões e intolerância, invocando seu corpo e a poesia, com uma intensidade e uma comunhão com representações imagéticas que tornam o filme hipnótico. O diretor Taciano Valério parece ter realizado aqui seu mais redondo filme. Daqueles em que o espectador lamento quando chega ao final.

O programa encerrou com a “leveza” da tensão própria dos filmes de gênero. No caso, o horror. Como apresentou seu diretor Jota, Domingos foi a primeira tentativa de incursão na produção de um filme do grupo recifense “Toca o Terror”, que começou com criando podcasts sobre o assunto, depois criou o blog, depois um cineclube e agora envereda para a produção.

Desprentesioso, Domingos cumpre seu papel, e muito bem. Cria tensão a partir de elementos já cristalizados pelo tema, dando um condimento culturalmente pernambucano, o que o torna ainda mais simpático. Grande sacada, também, do Festiva de Triunfo, que o incluiu na competitiva pernambucana, uma vez que obras assim costumam ficar relegadas à festivais do nicho do horror.

A noite encerrou com o longa-metragem Para minha amada morta, de Aly Muritiba. Dentro da seleção de longas competitivos, Triunfo não apresenta novidades, todos são filmes com alguma ou muita circulação em festivais. O documentário baiano Umbigo (exibe amanhã, 12/08), de Cauã Santana, é talvez aquele que teve menos oportunidades em festivais.

Há ainda o média-metragem – hor-concours – Bom dia, poeta, de Alexandre Alencar, sobre o poeta do Pajeú, Louriva Batista. O filme exibe no sábado (13) antes da cerimônia de premiação e antes da exibição de Big jato, de Cláudio Assis, também em caráter hor-concours.

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