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Críticas

Detroit em Rebelião

Bigelow nos lembra, em letras grandes, o absurdo do racismo por um episódio real.

Por Luiz Joaquim | 14.10.2017 (sábado)

O primeiro ponto a se observar em Detroit em rebelião (Detroit, EUA, 2017), de Kathryn Bigelow, é a capacidade de sua diretora em criar a sensação de urgência em sequências de ação.

Baseado numa história real ocorrida na cidade titulo, em julho 1967, durante uma rebelião que durou cinco dias a partir de um bairro superpovoado por afro-americanos cansados da opressão violenta aplicada pela policia municipal, Detroit… nos dá como primeiras imagens a situação estopim que estourou a rebelião e suas subseqüentes brutalidades entre policia e suburbanos negros.

A dinâmica da filmagem de Bigelow, neste caso, parece ser a de registrar todas as ações, por mais simples que sejam, por uma incrível quantidade de ângulos para depois enlouquecer seu montador com as diversas opções destas imagens e, uma vez encadeadas, gerar no espectador aquele sentido de urgência e confusão desejado para ilustrar o inferno da rebelião.

Estabelecido o caos, pelo visual frenético e com uma boa quantidade de figurantes bem ensaiados, Bigelow entra aos poucos em drama personalizados para seu espectador vincular a empatia necessária que irá segurá-lo (ou não) pelos longos 145 minutos de duração do filme.

No caso temos duas frentes principais e alguns personagens satélites para sofrerem juntos. Larry (Algee Smith) é quem está no foco como o vocalista da primeira formação do grupo musical The dramatics, que posteriormente viria a fazer sucesso pelo famoso selo da Motow (mas sem Larry).

Numa noite da rebelião, após frustrada primeira quase-apresentação do The dramatics num evento musical da cidade, Larry sai em fuga com o parceiro Fred (Jacob Latimore) e abriga-se no Motel Algiers. Lá conhece duas garotas brancas, Julie (Hannah Murray) e Karen (Kaitlyn Dever), que se relacionam com afro-americanos.

Enquanto o mundo se acabava pelas ruas, com a policia municipal, estadual de Michigan e até os militares da Guarda Nacional lutando desigualmente contra a população negra, o clima no Algiers era da descontração até que uma provocação atrai e atenção truculenta de um racista guarda municipal, Krauss (o muito bom Will Poulter, de O retorno), e daí tem início o inferno pessoal de todos ali instalados.

Há ainda a presença de um segurança particular, negro, chamado Dismukes (o ator John Boyega, que você conhece de Star Wars: O despertar da força (2015) e o verá em Star Wars: O ultimo jedi em dezembro), funcionando como aquele que procura um ponto de equilíbrio entre a fúria racista dos policiais e a mistura de medo e ódio pelo qual o grupo oprimido vivencia.

 

A essência de Detroit em rebelião parece mesmo concentrar-se no absurdo que foi o abuso dos policiais na quinta maior cidade dos EUA durante aquele episódio contra os negros no Algiers, numa época em que a luta pelos direitos civis já tomavam todos os noticiários do EUA (e do mundo), fazendo pessoas se dividirem entre prós e contras o absurdo da violência racista.

Nesse sentido, a brutalidade física e psicológica infligida por Krauss numa noite de horror, que termina com assassinatos à sangue frio, parece estar aqui desenhada por Bigelow para ressaltar em letras garrafais o quão sem sentido e tosca é a ideia do racismo.

A diretora é exitosa em nos fazer lembrar com agonia que uma atrocidade assim aconteceu há 50 anos (e, revoltante, que ela também não se restringe a um passado tão distante assim), mas Detroit em rebelião parece perder o rumo, ou melhor, estender-se para além do cerne do recado em seu ¼ final ao insistir em dar o destino das vítimas daquela história; dissipando o ápice do impacto que proporcionou na plateia no ¼ anterior.

O resultado final é um filme denso, mas disforme em seus resultado e com algumas distrações que não contribuem para a sua unicidade.

E o ponto maior fica com o cantor e ator Algee Smith, que a partir daqui deve ser um nome a ser lembrado e observado no cinema.

Algee Smith em “Detroit em Rebelião”.

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