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Críticas

Paradise Now

Sobre homens-bomba e ideologia. O filme, palestino, concorreu ao Oscar e venceu o Globo de Ouro.

Por Luiz Joaquim | 02.11.2017 (quinta-feira)

* texto publicado na Folha de Pernambuco, edição 4 de dezembro de 2006

Há uma seqüência em Paradise now (Palestina, 2005), estreando no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em que o palestino Khaled (Ali Suliman) grava um testemunho em vídeo. Empunhando uma arma numa mão e segurando um papel na outra, ele lê nervoso um texto que expõe as razões pela qual vai acabar com sua vida em prol do que acredita ser justo para a libertar seu povo contra a ocupação de Israel. Ao fim do discurso, o cameraman avisa a Khaled que nada adiantou pois a fita não funcionou. Essa seqüência e situação constrangedoras sintetizam bem o tom circundando esta produção que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro.

Por uma sintonia afinada entre filme político e thriller de suspense, o filme seria um irmão pobre (em dinheiro) de Munique, de Spielberg, no que diz respeito a perturbação que se passa na cabeça de um soldado terrorista movido por uma ideologia política regada pelo ódio.

O recém-convocado soldado Khaled é, na realidade, um palestino comum, assim como o é seu amigo de infância Said (Kais Nashef). Ambos são chamados a operar uma missão secreta. Eles terão a chance de morrer como homens-bomba e virar mártir para chamar a atenção do mundo sobre as injustiças contra a Palestina.

Interessante observar como Khaled – inicialmente excitado e convicto de seu destino – vai perdendo a fé em sua missão, e Said – inicialmente duvidoso se está fazendo a coisa certa – toma força através da ira que a ocupação casou em toda sua vida. Esta reviravolta, no filme de Hany Abu-Assad, dá ao espectador a possibilidade de perceber o quão tênue pode ser um convicção política quando a própria vida é a moeda de negociação. Mais sério ainda é descobrir que a própria ação dos terroristas ou, ao menos, seus vídeos-testemunho, ganham uma conotação comercial nas vídeolocadoras da própria Palestina.

Há um personagem feminino, Suha (Lubna Azabal), interessada por Said, que também serve como contraponto à idéia por trás do terrorismo. Suha seria o Ocidente, que tem uma vida tranqüila, é filha de pai abastado, e acredita no diálogo e senso pacífico para resolver questões bélicas. Do outro lado, Khaled, com quem ela discute, a faz lembrar que “só quem vai atrás da agonia é quem vive no além da agonia”.

A certa altura, a caminho de entrar no território inimigo – onde os grandes prédios e carros uxuosos contrastam com os pobres filtros d’água da Palestina – Said pergunta a um outro militante o que acontece após a missão. A resposta, ao invés de reconfortante, é assustadora para quem não tem fé: “Dois anjos estarão lá para pegar vocês pela mão”.

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