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Críticas

Mar Aberto

Não espere por uma reedição de “Tubarão”

Por Luiz Joaquim | 24.08.2018 (sexta-feira)

-publicado originalmente em 6 de agosto de 2004 no jornal Folha de Pernambuco

Ao final da sessão de pré-estréia de Mar Aberto (Open Water, EUA, 2004) na última terça-feira, uma espectadora na poltrona da frente comentou em furioso tom de indignação: “Como é que pode? Esse filme é ridículo. Não devia nem ter sido feito”. A colocação da moça traduzia a reação da maior parte da platéia, que saiu da sala se sentido traída pelo final do filme, mas o comentário, junto aos vários “ôxe!” exclamados pelo público, é um bom indicativo do que pode acontecer quando uma produção que mapeia sua estratégia comunicativa longe da cartilha de Hollywood está sendo projetado para um público educado para gostar de, por exemplo, Resident Evil 2.

Mar Aberto corre por 80 minutos mostrando a agonia de um casal (Blanchard Ryan e Daniel Travis) esquecidos em alto-mar por uma equipe de mergulho. Simples assim. Simples também foram as pretensões dos realizadores Chris Kentis (direção, roteiro, edição, fotografia) e Laura Lau (produção, fotografia) que rodaram o filme em finais de semana e feriados. Realizado com apenas 130 mil dólares, arrecadou mais de 30 milhões da mesma moeda nos EUA.

O filme vem sendo comparado com A Bruxa de Blair (1999) não só pelo relação custo/lucro, mas também pela competência em estimular medo e ansiedade real na platéia; e ainda pela  sua estética, características aos filmes captados em câmera digital – que no caso de Mar Aberto incomoda pelo mau resultado no transfer para película. Mas esse um problema pequeno para uma obra cinematográfica que lhe suga da realidade para uma fantasia. Fantasia de horror, é verdade, mas horror gostoso por ser justamente de mentirinha.

Aos que esperam ver uma espécie de reedição de Tubarão (1975) de Spielberg, o endereço não é o multiplex, mas sim a locadora de home-vídeo. Talvez, apenas talvez, se tivesse sido planejado para ser exibido numa espécie de “Sessão de Arte” no Recife, a obra não tivesse extraído nenhum “ôxe!” da platéia. Mas, que bom Mar Aberto estar em cartaz diariamente.

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