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Críticas

Letra e Música

Romance cantado e tocado

Por Luiz Joaquim | 24.08.2018 (sexta-feira)

-publicado originalmente em 2 de Março de 2007

Em Letra e Música (Music and Lyrics, EUA/Ing., 2007), nova comédia romântica com Hugh Grant e Drew Barrymore que entra em cartaz hoje, um roqueiro letrista comenta, em tom irônico, com o casal protagonista do filme: “Parabéns pela música melosa de vocês!”. A crítica poderia vir de qualquer pessoa que entende de boa música, e poderia servir de sarcástico também de qualquer crítico de cinema para com o próprio filme em questão, uma despretensiosa comédia romântica, doce por natureza.

Mas o comentário do compositor só surge lá pelo meio da projeção, quando este filme de Marc Lawrence (de Miss Simpatia) provavelmente já terá embalado o espectador com o improvável encontro destes dois solitários aqui representados. Ele é Alex (Grant) um dos integrantes do grupo ‘PoP’, famoso pelo rebolado dos quadris e as açucaradas canções sobre amor levadas ao som dos sintetizadores e baterias eletrônicas que fizeram a felicidade de tantos jovens e bandas nos anos 1980 como ‘Frank Goes To Hollywood’, ‘Wham’, ‘Culture Club’, ‘Blondie’, ‘Duran Duran’,  e outras várias.

O tom aqui é o da decadência. Alex, em 2006, vive de pequenas apresentações, dublando a si mesmo em playbacks, para animar suas fãs balzaquianas, mães de família, em reuniões de turmas de faculdade dos anos 1980, ou em parques de diversão onde quase ninguém lhe presta atenção.

A maior cantora pop juvenil da atualidade é a magrela pós-adolescente, Cora Corman – a atriz Haley Bennett, numa sátira às estrelas Britney Spears, Avril Lavgne, Shakira e todas as sub-Madonnas que vieram e virão com suas sexodanças. Quando Alex descobre que Cora quer uma composição dele para o próximo álbum dela, ele, a “relíquia” precisa desenferrujar o talento, mas percebe que só vai conseguir com a ajuda de Sophie (Barrymorre), uma letrista nata e escritora frustrada que ajuda num spa sua irmã mais velha, e fã do ‘PoP’ (Kristen Johnston, divertida). Não precisa ser muito experto para descobrir o que vai dar a união destes solitários maltratados pela sociedade.

Entre os méritos de Letra e Música estão algumas piadas rápidas e certeiras em situações ácidas para o tão patético, necessário e cruel mundo pop que nos cerca. As maldades com a ex-famosas bandas dos anos 1980 (aquelas que meninos de 13 anos nunca ouviram falar) são divertidas, assim como também são malvadas às piadas ao universo fútil de Cora e o que ela representa.

Ao mesmo tempo, Letra e Música não soa ofensivo, mas melancólico até pela situação desfavorecida dos casal. Como comédia romântica, não chega a ter alto poder de impacto como o já clássico Três Casamentos e Um Funeral (1994), com o próprio Grant, que parece preso ao gênero para sempre. Mas numa outra leitura, deixa aberta a possibilidade de ver o casamento da melodia (aqui fluida e viva) com a letra (densa e sofrida), personificadas, respectivamente, em Alex e Sophie. E quando estes dois elementos casam bonito, é bom de se ouvir.

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