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Críticas

Cor da Pele

Apresentando Kauan, uma força da natureza, pronto para lidar com a natureza da sociedade.

Por Luiz Joaquim | 28.12.2018 (sexta-feira)

Em 2009, o fotógrafo pernambucano Alexandre Severo – falecido em 2014 no acidente aéreo que matou o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos – ganhou reconhecimento internacional com o ensaio À flor da pele. Nele, o talento de Severo apresentava os irmãos albinos – Kauan, Rute e Estefane – de uma família com outros filhos negros.

Cor de pele, documentário dirigido por Lívia Perini e vencedor da competitiva geral no 20º Festcine, é a versão audiovisual desta história incomum.

Em tom assumidamente infantil (mas sem soar ‘infantilóide’), o curta-metragem vai pelo mesmo caminho do interesse da reportagem publicada há quase dez anos pelo Jornal do Commercio (Recife).

Investiga e apresenta ao espectador, com leveza, o cotidiano dessa curiosa família olindense. E é a natural curiosidade sobre o cotidiano das crianças que pauta o filme. Mas há ali um elemento que parece ter contagiado a equipe a ponto de deixá-la a vontade para redesenhar seu roteiro em função deste elemento. Elemento que atende pelo nome de Kauan, então com 11 anos de idade.

Dono de uma personalidade forte e cativante, Kauan abre o filme atraindo, de cara, o espectador ao revelar que “tem vez que a gente demora muito pra sair na rua. E quando sai é só de noite. Eu gosto de sair de tarde também. Mas… nunca dá certo. Toda vez que volto, volto todo queimado e levo uma pisa por cima”, conta, desconfiado, para a câmera de Patrick Tristão, diretor de fotografia que não hesita em pontuar todo o filme com o apelo das cores fortes de Olinda.

É essa opção colorida, colada na trilha sonora de Pedro Santiago, que reforça o espírito infantil do filme e, claro, ritmado pelas revelações não apenas de Kauan, mas também das irmãs Rute e Estefane, além da mãe Rosemere Fernandes.

Mas é Kauan a estrela aqui. Um menino traquina, e adorável, em sua alegria de viver. Que subverte qualquer possível expectativa construída sobre ele a partir das limitações com as quais é obrigado a conviver em função da alta sensibilidade de sua pele

De intrigante – mas não sendo exatamente uma surpresa -, Cor da pele nos traz o dado do preconceito vivido por Kauan e pelas irmãs. Todos com pele bastante clara, convivem numa comunidade de crianças com pele majoritariamente mais escura e sofrem consequências de preconceito por isso.

É como se não houvesse saída para o diferente, a não ser provar aos outros que a diferença está apenas nos olhos de quem vê. E, se depender de Kauan e sua personalidade dominante, ele vai se sair muito bem.

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