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Críticas

GeoPoesis

Como qualquer bom filme experimental, curta de Diniz e Nascimento é para sentir e não explicar.

Por Luiz Joaquim | 28.12.2018 (sexta-feira)

Poesia não se traduz. Não se explica. Sente-se. Ou não. GeoPoesis, filme de Zé Diniz e Fred Nascimento, que venceu em primeiro lugar na categoria ‘Videoarte/Experimental’ da competitiva geral no 20º Festcine, situa-se nesse espaço em que qualquer tentativa de tradução ou explicação seria ingênua. Por que não dizer, desnecessária.

Como experimento (planejado) que é, o trabalho realizado com o Grupo Totem – que desenvolve conceitos performáticos há 30 anos, completos neste 2018 -, o curta com cerca de 20 minutos de duração tem como referência norteadora a cultura dos povos indígenas de Pernambuco, os Pankararu, Kapinawá e os Xukuru.

A relação proposta aqui pelas performers Juliana Nardin, Taína Veríssimo, Gabi Cabral, Lau Veríssimo e Inaê Veríssimo é a da interação com os elementos da natureza; ou melhor seria dizer, elas próprias vivenciarem os elementos da natureza – com a coreografia sendo aqui a expressão absoluta dessa representação (apoiada por figurino e maquiagens bem específicos).

Coreografia que interage com a locação escolhida – em particular o Vale do Catimbau, em Buíque (PE) -, com sua diversidade arenosa, rochosa e de vegetação; sem falar na imponência visual, denotando respeito.

Nesse sentido, soa muito acertado que GeoPoesis inicie sempre com closes destacando detalhes no corpo das mulheres para daí partir para o todo, para a natureza, com a mulher como que trespassando pelos quatro elementos da nossa natureza.

Numa certa medida, este experimento remete a um outro trabalho igualmente impactante no qual mulher e natureza são uma só coisa. É de Solon (2017) que falamos. Curta mineiro, de Clarissa Campolina, que sugere o surgimento da vida na terra começando pela mulher vindo da água.

Além da coreografia, figurino, maquiagem e locação, há um quinto aspecto indissociável ao bom resultado com o qual somos agraciados em GeoPoesis: a trilha sonora conduzida por Cauê Nascimento (na guitarra), Alexandre Salomão (derbak e didgeridoo e ainda editor de som) e os diretores Zé Diniz e Fred na percussão/efeitos e didgeridoo, respectivamente.

É com os efeitos de som e a trilha sonora de personalidade forte que o filme ajuda, ainda mais, a ‘vender’ para ao espectador a ideia de simbiose entre as performers e a natureza. A sequência de Inaê Veríssimo com uma rocha junto ao seu corpo, ou os movimentos de Taína Veríssimo pintando as pernas a partir de outra pedra, e ainda, Juliana Nardin ‘descolando-se’ da rocha, tudo sob os efeitos sonoros e musicais criados especificamente para o filme, são perfeitos exemplos desse acerto.

Ao final, fica a indiscutível certeza de que estamos diante de um trabalho profundamente feminino. E seria pouco afirmar assim apenas pela presença exclusiva das mulheres em cena. É feminino pela ideia da mulher como, ela própria, um elemento transformador da natureza.

Duas sequências em particular parecem reforçar essa ideia. Os movimentos em torno da fogueira, e a espécie de comunicação e reverência entre elas e o sol que nasce no horizonte. Sol que sempre foi, e será, a fonte de energia necessária para qualquer vida aqui na Terra florescer.

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