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Festivais

32º Cine Ceará (2022) – curtas pernambucanos

Sobre envelhecer e sobre enxergar o Recife como um corpo que pode ser seu.

Por Luiz Joaquim | 11.10.2022 (terça-feira)

– na foto divulgação de Chico Gadelha, o Cine São Luiz (Fortaleza) na noite de ontem (10)

A mostra competitiva de curtas-metragens do 32º Cine Ceará: Festival Ibero Americano de Cinema – que segue até quinta-feira (13) – conta com dois filmes pernambucanos. O primeiro deles, Filhos da noite, de Henrique Arruda, foi exibido na noite de ontem (10) no principal espaço do festival – o Cinema São Luiz, na Praça do Ferreira.

É boa a premissa do documentário de Arruda, ouvir oito homens gays acima dos 50 anos sobre o natural caminho da vida (envelhecer), e a relação de cada um deles com esta realidade que se apresenta, incontornável, pela decadência do corpo. Sendo o corpo um templo de adoração para algumas pessoas, como lidar com o seu próprio corpo não respondendo àquilo que você admira?

A condução do filme, entretanto, parece se atrapalhar no caminho aonde quer chegar. Tropeça no encadeamento entre uma fala e outra dos personagens e, ainda que nos ofereça belas imagens ilustrando os depoimentos, nos entrega um documentário que não soa revelador em nada (ou quase nada), fazendo dele apenas um volume na superfície do mar de títulos afins.

Still de “Filhos da noite”

Amanhã (12) à noite, chega à tela do São Luiz cearense a ficção Celeste (sobre nós), primeiro trabalho da ex-aluna de Cinema da UFPE, Natália Martins Araújo, com recursos mais profissionais a partir de contemplação no Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultural – Audiovisual (Funcultura Audiovisual).

O enredo conta do ‘corre’ de Marisa (Cau Barros), entregadora de pizza do restaurante ‘Pizza Hot’. Em sua moto, percorre o Recife de cima a baixo pela noite e madrugada solitária. Não temos contato com seus clientes, exceto por um deles, o cantor Jonas Menezes, cantor de um bar cujo dono tem a participação afetuosa de Carlota Pereira (também na direção de arte, com Manoela Scortegagna).

Dessa forma, Celeste concentra o foco em Marisa, e em seus pensamentos em off, enquanto pilota pela cidade comparando-a a um corpo com característica bem particulares quando a madrugada chega.

Um elemento fantástico tenta (tenta) fazer do filme algo que ele nunca chega a concretizar. Logo no início, parada num semáforo, Marisa percebe um corpo celeste cruzando o céu azul do Recife. Pelo resto do dia, ela vai se perceber diferente com o que lhe cerca.

É fácil ver em Celeste uma acuidade na produção, com a fotografia envolvente e fluida de Tiago Calazans e uma atenta direção de atores, com estes à vontade em timing correto para a dramaturgia variar entre a naturalista e a não-naturalista.

Tudo isso faz de Celeste um belo trabalho cuja vírgula aparece apenas nas inserções em off da protagonista. O texto supõe uma profundidade de pensamento que não cola com o todo. O que o torna um elemento que não acrescenta, e sim distrai, tentando nos levar a um outro lugar que não parece mais atraente do que aquilo que as imagens de Calazans já nos apresentam com eloquência.

Assim sendo, a versão oficial de Celeste nos faz querer conhecer uma possível versão oficiosa, sem o off, por mais burilado que tenha sido o tal texto para o off no roteiro de Martins Araújo. Esse indicativo é como um sinal amarelo no trajeto noturno aqui desenhado para a personagem Marisa.

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