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Críticas

Desejo e Reparação

Filme triunfa como adaptação

Por Luiz Joaquim | 11.01.2007 (quinta-feira)

É sempre complicado avaliar uma obra cinematográfica adaptada de um livro, como é o caso de “Desejo e Reparação” (Atonement, Ing., 2007), filme de Joe Wright, estreando hoje e trazendo consigo o título de obra com a maior quantidade de indicações – são sete: melhor filme dramático, direção, roteiro, atriz dramática (Keira Knightley), ator dramático (James Mcavoy), atriz coadjuvante (Saoirse Ronan), trilha sonora – ao 65° Globo de Ouro, que acontece depois amanhã.

Complicado porque o conteúdo do livro foi concebido por uma único criador (Ian McEwan) e fala direto para apenas um leitor de cada vez. A cada “fala”, para cada o leitor, diz algo específico para essa pessoa que lê, e só a ele toca como não toca a nenhum outro. Cinema é coletivo no fazer e no consumir. Na concepção, já vem recheado de uma coleção de pontos de vista sobre um mesmo tema. O do diretor, o dos atores, do roteirista, montador, compositor, editor de som, figurinista, cenografista, e por aí segue.

Além dessa saravaida de dedos num filme, supostamente consoantes, apontando para um mesmo ponto, há ainda as distinções nas duas estratégias narrativas – a literária e a cinematográfica – de contar uma história. O ambiente também interfere. Imerso num o livro, o universo pára. Numa sala de cinema, o celular toca ao lado.

O FILME
Todas essas informações sobre ‘adaptação’ são levadas pouco em conta, ficando o peso de uma analogia valorativa entre obra literária e cinematográfica valorizada, ou não, apenas por termos da linguagem. “Desejo e Reparação”, o filme, ganha pontos neste expediente, o de saber utilizar as ‘armas’ do cinema.

No lugar da tensão amorosa e sexual entre o casal protagonista, formado pela aristocrata Cecília (Knightley) e o subalterno Robbie (James MaCavoy), o filme as representa com belas imagens e não através de um carga de diálogos cansados, habitual em adequações preguiçosas de livro para filme. Wright usa de uma mise-en-scène afinada, em que atores funcionam matematicamente (mas sem soar matemáticos) em função de uma equilibrada balanço entre fotografia e sustentação de tensão.

A música atua também. Numa interação que utiliza os som ambientes (o som de uma máquina datilográfica, uma pancada no capó do carro), gera uma organicidade entre as melodias e a ação visual que transcorre na sua frente.

A direção de arte também impressiona, mas, como já disse a crítica norte-americana, não se sobrepôe ao drama e ao que há de humano. Vale uma ressalva: a última seqüência do filme, diminui as palavras lindamente interpretadas ditas antes por Vanessa Redgrave. Ela vive a versão idosa, nos dias de hoje, de Brioney, a irmã mais nova de Cecília, que como escritora tenta se ‘reparar’ pelos pecados da infância.

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