X

0 Comentários

Críticas

Incuráveis

Primeiro longa-metragem de Gustavo Acioli está em cartaz no Cineteatro Apolo (Recife)

Por Luiz Joaquim | 16.07.2007 (segunda-feira)

No filme “Carreiras”, Domingos Oliveira esbarra com a protagonista vivida por Priscilla Rozembaun numa banca de revista em plena madrugada carioca. Daquele encontro casual, os dois começam a trocar diálogos de frases feitas. A brincadeira soa interessante pela agilidade e desprendimento na performance dos dois atores. Mas, em menos de cinco minutos, e antes de se tornar chato, Oliveira diz para Rozembaun: “Vâmo parar com esse diálogo de frase feita que já ta ficando chato!”.

Em “Incuráveis” (Brasil, 2006), filme de Gustavo Acioli, em cartaz desde ontem no Cineteatro Apolo, a impressão que se tem é a de que ele corre por seus 81 minutos apenas com frases feitas. O que parecia ter um limite pequeno para Oliveira, ganhou uma exacerbação na mão de Acioli. Assim com “Carreiras”, “Incuráveis” também foi adaptado de uma peça teatral. E, também como “Carreiras”, este primeiro longa-metragem de Acioli (conhecido pelos curtas “Cão Guia” e “Nada a Declarar”) apóia-se no talento da atuação dos intérpretes. Aqui defendidos por Fernando Eiras (“Filme de Amor”) e Dira Paes.

Ambos estão esforçados defendendo o casal incomum que juntos dividem uma noite num quarto de bordel. Ela, prostituta, é contratada por ele, um suicida, para que por R$ 500,00 passe a última noite dele apenas escutando suas palavras. O que parece promissor na abertura, vai para uma direção obscura antes de finda a primeira terça parte do filme.

Em poucos minutos, o sexo toma abruptamente seu lugar na tela, sobre a falsa promessa daquilo que seria uma noite de profundas revelações melancólicas. As tais frases feitas começam a tomar seu lugar e, pela insistência, provocam o inverso do que propõem. O desejo com elas (as frases feitas) era claramente vender uma espécie de cumplicidade e até conexão íntima entre o casal – assim como acontece em “Carreiras”.

Mas em “Incuráveis”, expressões como “O que a gente faz com tudo isso?”, “Tudo isso o que?”, “Isso que nós somos”, “Guarda para alguém que te ama”; ou ainda: “Quanto você cobra?”, “Pensei que não ia perguntar”, “Quanto?”, “Depende do cliente” – se repetindo alternadamente entre os dois atores apenas cansa. E só.

Além dos esforços de Paes e Eiras, que levou prêmio de melhor ator em Brasília pelo papel, vale o crédito para a bonita, mas um tanto espetaculosa, fotografia de Lula Carvalho, filho de Walter Carvalho.

Mais Recentes

Publicidade