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Festivais

Festival do Rio 2007 (4)

Kogut mostra sua versão para Guimarães Rosa

Por Luiz Joaquim | 26.09.2007 (quarta-feira)

Rio de Janeiro (RJ) – Um dos grandes prazeres e benefícios de mostras como o Festival do Rio, com 370 filmes em duas semanas, é poder descobrir obras especialmente deliciosas, que chegam por aqui mesmo sem nenhum referência de prêmio em eventos importantes do mundo, e lhe conquistam pelo mais autêntica qualidade: a competência artística, beleza, delicadeza. O britânico “Cashback” (2006) – foto acima – primeiro longa-metragem de Sean Ellis, é um desses casos.

Exibido pela primeira na terça-feira, no Estação Ipanema, o filme é uma extensão do homônimo curta-metragem de Ellis, que chegou a concorrer ao Oscar da categoria em 2005. Esta linda comédia-dramática fala de um “Belo Adormecido” às avessas. A primeira imagem que vemos é o rosto de uma mulher, exuberante, olhando para a câmera e xingando furiosamente. Não há som e a velocidade é reduzida para câmera lenta.

Ela xinga Ben (Sean Biggerstaff), jovem prestes a ser forma em artes, com quem ela termina o namoro. Acometido de depressão, Bem não consegue mais dormir e se emprega no turno da madrugada num supermercado. O humor de “Cashback” se concentrar nas figuras malucas que trabalham ali naquele horário, e o drama fica na figura de Bem, jovem que sempre foi fascinado pela forma feminina e pelo poder que eles possuem com sua beleza, sem nem se dar conta disso.

É um admirador das mulheres da estirpe de um Antoine Doinelle, de Truffaut, e o diretor Ellis dá roupagem moderna ao assunto, com precisão cirúrgica. Na memória da infância, por exemplo, Bem recorda da imagem mais bela que já teve na vida, quando uma estudante adolescente sueca, hospedada em sua casa, saiu do banho sem roupa. Por mais pornográfico que possa soar essa situação, não é assim que vemos em “Cashback”.

Também em Ipanema, aconteceu a projeção de “Eu Não Quero Dormir Sozinho” (Hey Yan Quan, 2006), filme de Tsai Ming Liang feito após “O Sabor da Melancia”. Aqui há menos sexo, mas Taiwan mais uma vez é acometida por um fenômeno esquisito da natureza. Uma queimada próximo da cidade deixa a cidade coberta de fumaça. O enredo gira em torno de dois enjeitados que se encontram. Ele é acolhido na rua por um operário e ela cuida de um rapaz em coma. O ritmo é lento, mas delicioso porque as imagens de Ming Liang são ricas. No seu enquadramento, há muito o que ver. Figuras tanto no primeiro plano quanto ao fundo tem uma função própria. E, mais uma vez, a música e fundamental aqui. Personagens quase não falam, mas a música expressa suas emoções.

Na Sessão de Gala de “Mutum”, no Cine Palácio, a noite foi especial para Thiago da Silva Mariz. Ele veio do sertão de Minas Gerais. Era seu aniversário de 12 anos. Era a primeira vez que ia ao cinema, e era a si próprio que iria ser ver na tela. Ele protagoniza este primeiro longa-metragem de Sandra Kogut como o garoto que vê o sertão da obra de Guimarães Rosa, da qual o filme foi adaptado. História mostra com delicadeza espécie de transição da fase infantil para juvenil. Kogut deixou aqui uma obra interessante, fácil de encantar tanto o público adulto quando o infantil. Tenho a impressão que Guimarães se orgulharia.

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