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Festivais

12° CinePE (2008) – noite 3 (longas)

Constrastes entre um longa paulistano e outro pernambucano

Por Luiz Joaquim | 01.05.2008 (quinta-feira)

O publico do 12° Cine-PE recebeu ontem à noite (quarta, 30) com calor carinhoso a atriz televisa Helena Ranaldi que, acompanhada por Sérgio Mamberti e Walmor Chagas, dois bichos do cinema, subiu ao palco do Cineteatro Guararapes ao lado do diretor (e também dono da distribuidora paulista Pandora Filmes) André Sturm. Eles estavam ali para apresentar o filme de Sturm “Bodas de Papel”, quarto longa-metragem em competição na mostra oficial.

Meio sem jeito, Ranaldi “pisou devagar” no discurso, comentando que era seu primeiro trabalho no cinema e não estava habituada a estar na presença de tanta gente para ver junto um trabalho seu. O clima ficou esquisito quando Walmor Chagas, pegou o microfone em seguida e largou a seguinte sentença: “Só o cinema pode salvar o Brasil pela cultura; porque a televisão é o reino da mediocridade”. Mamberti foi mais sutil, lembrando da força de nossa cinematografia e da necessidade de sua perpetuação.

Uma pena que “Bodas de Papel” não possa servir de exemplo para a assertiva do ator de “São Paulo S/A”. Isso porque Sturm, neste seu segundo longa (o primeiro, “Sonhos Tropicais”, deu a Carolina Kasting o ‘Passista’ de atriz coadjuante em 2002), comete deslizes em vários aspetos cinematográficos.

O próprio padrão estético sugerido aqui pela fotografia e enquadramentos de Fábio Cabral não contribuíam para o envolvimento do espectador com a trama. Sem falar na direção de arte asséptica, dando aos ambientes internos uma atmofesta tão realista quanto a de um estúdio publicitário de margarina. E ainda merece observação a montagem desritimada e sem organicidade de Cristina Amaral.

Tais problemas, aliados às falas montadas e ditas pelos atores num esforço hercúleo para não soar falso (esforço do qual só Walmor Chagas se sai ileso) fizeram um espectador impaciente na platéia do cinema berrar em cena aberta, com apenas 15 minutos de projeção, o desabafo: “Novela, isso é uma novela. Essa m…. !! ”

Na trama, Nina, a personagem de Ranaldi, está restaurando um hotel no pequeno município paulistano de Candeias. Lá, conhece o arquiteto argentino Miguel (Darío Grandinetti, de “Fale com Ela”). Em meio a um romance conturbado pela TPM da moça, vamos vendo e ouvindo as memória de Helena (não como as do excelente filme de David Neves) quando criança, ao lado de seu avô, vivido por Mamberti. E só.

Há uma aparente, mas quase incompreensível, tentativa de conectar uma história oriental contada pelo avô de Nina com o que a moça vive na vida adulta. Mas tal conexão é tão falha quanto a de uma discada feita pela internet há 10 anos.

O filme de Sturm, um drama, acabou, por fim, gerando constrangimento quando a platéia ria de forma descontraída em momentos sugeridos como dramático, mas cômicos pelos equívocos que desfilavam pela tela.

DE RISCO – Curioso que, logo após a sessão de “Bodas de Papel”, na seleção oficial do 12° Cine-PE, tivemos a exibição, às 22h40, de “Amigos de Risco”, do pernambucano Daniel Bandeira, numa mostra extra-oficial, apenas para longas do Estado.

O ‘curioso’ é que sem nenhuma sombra de dúvida, há uma dramaturgia e consistência cinematográfica largamente superior entre o filme de Sturm e o do diretor pernambucano de 28 anos. A coisa fica mais ‘curiosa’ ainda se apurarmos o custo do filme paulista, para conseguir o resultado que vimos ontem, contra o custo do pernambucano.

Na apresentação, sozinho no palco, Bandeira dedicou a sessão à platéia do Cine-PE, como a uma extensão do Recife, cidade que funcionou como um elemento pontuador para o desenrolar dos dois amigos que carregam um terceiro até um hospital pela madrugadas de nossas ruas sujas e perigosas.

A platéia do 12° Cine-PE não só permaneceu no auditório até final da sessão (passando de meia-noite) como interagia euforicamente com as mazelas do trio em desespero autêntico pela noite do Recife. Irandhir Santos (ausente na sessão), como o personagem indesejado, mais uma vez chamou a atenção. Não era difícil escutar entre o público toda sorte de xinguamento enderaçado ao Joca, seu personagem.

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