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Entrevistas

Entrevista coletiva: Última Parada 174

Barreto: quis um filme intimista

Por Luiz Joaquim | 21.10.2008 (terça-feira)

SÃO PAULO (SP) – Opção curiosa essa estratégia da Paramount em estrear comercialmente “Última Parada 174” (Brasil, 2008), de Bruno Barreto, nesta sexta-feira, em meio a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A produção brasileira vai competir com filmes potentes exibindo por aqui, o que é delicado considerando-se a importância da bilheteria em seu primeiro final de semana, e São Paulo é certamente uma praça importante. Talvez a estratégia esteja, entre outras, em aproveitar a vitrine da Mostra com sua grande quantidade de jornalistas de todos os lugares, assim como foi no Festival do Rio, onde “Última Parada” abriu o evento.

Nesse espírito, a Paramount organizou na tarde da segunda-feira, uma entrevista coletiva com o diretor Barreto, o roteirista Bráulio Mantovani, e os atores Michel Gomes (protagonista como Sandro do Nascimento, que seqüestrou a linha 174 em 2000 no Rio de Janeiro), Marcello Melo Jr (Alê, o adolescente confundido com Sandro), Cris Vianna (a mãe de Sandro), e Grabriela Luiz (que faz Soninha, sua namorada).

Respondendo a pergunta inicial, Barreto declarou que a armadilha de se levar à tela uma história real e conhecida é ficar preso em sua origem e não criar vida própria. “Neste caso, pra mim, a realidade era apenas um ponto de partida. Por isso não quis conhecer a mãe do Sandro”, explicou. Já Mantovani, teve um único encontro com ela, mas foi frustrante.

“Sofri muito como esse momento, e quase desisti do filme. Ela falava muito baixo e eu não entendia nada. O que ficou pra mim foi sua convicção de que Sandro era seu filho. Eu dizia, ‘mas foi feito um teste de DNA que não confirma’, aí eu olhava pra ela e pensava, ‘acho que esse teste é burro”, relembra o roteirista.

E Barreto complementa: “Queria fazer um filme impressionista do ponto de vista do personagem. O ‘porquê contar essa história’ precede a definição de qual história vou contar. Eu estava interessado em saber qual o sentimento de fidelidade e lealdade quando você vive nessas condições”.

Já Michel (que interpretou Bené pequeno em “Cidade de Deus”) tem hoje 19 anos e era muito criança para lembrar do seqüestro. “Mas todo mundo lembra e eu vi o documentário (‘Ônibus 174’)”. Preferido desde o início dos testes por Barreto, Michel ainda penou um ano fazendo outras audições até assinar o contrato. “Nossos rostos são desconhecido, mas não significa que trabalhamos duro como ator há algum tempo”, destacou.

Marcello, 22 anos, que fez uma ponta em “Cronicamente Inviável”, ratifica dizendo que mora no Morro do Vidigal e faz parte do grupo ‘Nós do Morro’. “Fazer um trabalho assim, me tornar um melhor agente em prol da minha comunidade”, comentou sério.

Ainda quente a polêmica sobre a nudez no audiovisual, levantada por Pedro Cardoso há três semanas, quiseram saber das atrizes qual a percepção delas sobre o assunto. Grabiela respondeu de imediato que em “Última Parada” não havia nada de gratuito com a cena, uma vez que se tratava de um reencontro após sete anos. “Temos ali a expressão do belo, num reencontro carinhoso”.

Questionou-se também a “coincidência” de se lançar “Última Parada” uma semana após acontecer outro seqüestro polêmico – o de Sto. André na Grande São Paulo; e qual seria a expectativa de Barreto do filme como representante oficial brasileiro na disputa pela vaga no Oscar. A primeira pergunta não surtiu maior desdobramento. Já para a segunda: “Ainda falta muito tempo e são 60 filmes para a Academia ver. Acho que tenho chance, tenho ouvido que o filme emociona e isso conta”, disse o cineasta.

E ainda respondendo à pergunta do CinemaEscrito se a repercussão de “Cidade de Deus” no mundo e o do documentário “Onibus 174”, especialmente nos EUA – ambos com temas nas mazelas socais – ajudariam a impulsionar seu filme no exterior, Barreto disse que “sim e não”. “É uma faca de doi gumes. Esses filmes criaram uma expectativa estrangeira sobre obras com temas assim, é delicado”, disse encerrando.

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