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Festivais

Festival do Rio 2008 (dia 2 out)

Sexo, mentiras e internet no independente Downloading Nancy

Por Luiz Joaquim | 03.10.2008 (sexta-feira)

RIO DE JANEIRO (RJ) – Festival Internacional de Cinema do Rio, prestes a entrar em sua última semana, começa a esquentar agora com títulos que fazem jus a um grande evento como este. Vendo por exemplo, na noite de quinta-feira, a première de “Happy-Go-Lucky” (2008) filme de Mike Leigh, aqui dentro do Foco Reino Unido, ficou fácil entender porque sua protagonista, Sally Hawkins vivendo a iluminada Poppy, levou o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim 2008.

Sempre com um sorriso em cena, Hawkins criou um personagem esfuziante, irradiando felicidade e alegria a todos que estão a seu redor. Sob a batuta de Leigh, mestre em deixar o elenco à vontade, seus atores dão um espetáculo de naturalidade. Seu, roteiro, outro primor, dá a medida certa para entender que a alegria da estabanada e piadística Poppy é autêntica, sem artifícios ou artimanhas. Uma criatura simplesmente feliz, rara de se encontrar nos dia de hoje, mas possivel.

Como já disse, o roteiro é afinado o suficiente para vermos que nem tudo é flor na vida de Poppy, mesmo porque ela vive num mundo imperfeito, com pessoas infelizes e isso lhe afeta diretamente. A começar pelo seu professor na auto-escola, o estressado Scott (Eddie Marsan). Poppy é uma professora primária de Londres que logo na abertura do filme tem sua bicicleta roubada. “Nem tive tempo de me despedir”, reage ela sorrindo.

Sem sua companheira de duas rodas, inicia as aulas de direção e, além do contato com Scott, vai interagindo com um assistente social, professoras colegas da escola, a irmã grávida, e alunos problemáticos. Há um esquema no roteiro que coloca tudo em função de uma demonstração da personalidade de Poppy para o espectador.

Numa amarração flúida, o esquema não incomoda, e cumpre a função de apontar para a vida sob uma perspectiva quase infantil (no bom sentido), dizendo que viver a vida é simples, o problema é que nem todo mundo sabe o que fazer com ela. “Happy-Go-Lucky” ainda não tem distribuição certa no Brasil.

DOWLOADING NANCY – Numa outra mão, dentro do bloco `Midnight Movies` (dedicado àqueles filmes mais, digamos, hard-core) o Festival do Rio exibiu o independente norte-americano “Downloading Nancy” (2008), do videoclipeiro de Madonna, Beyoncé e Robbie Williams, o diretor Johan Renck. “Downloading…” é sua estréia num longa e o filme chega aqui sem nenhuma indicação de festivais internacionais. Esteve no Sundance 2008, mas não levou prêmios.

A Nancy do título é Maria Bello (corajosa), uma mulher deprimida que trabalha com a internet e vive um casamento falido com o empresário de golf virtual (Rufus Sewel). Trama se desenrola a partir de um encontro real com um amigo (Jason Patric) que ela conheceu no bate-papo da web. “Download…” mostra força nas imagens e nas boas intepretações, mas trama criada pelo roteiro de Pamela Cuming (baseado numa história real) fica muito próxima de um outro clássico independente norte-americano: “sexo, mentiras e videotape” (1989), Palma de Ouro em Cannes para Steven Soderbergh.

Uma diferença entre a história original de Soderbergh e a contada por Renck é a tecnologia empregada pelos personagens. Enquanto no primeiro o marido escuta o que sua mulher nunca lhe disse pessoalmente através de um videotape gravado por um segundo homem, em “Downloading…” Sewel lê a verdade sobre sua mulher nos e-mails que ela enviava a Patric.

Outra diferença é que em “Sexo….”, Andie MacDowell procurava encontrar amor fora do casamento; já Bello busca a morte, e a ferramenta é a internet, o que remete imediatamente ao curta pernambucano de Leo Falcão, “lastnote.com”. Alguns seqüências de malvadeza envolvendo dor tirou alguns espectadores da sala na sessão de meia-noite da sala Espaço de Cinema 3.

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