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Festivais

Festival do Rio 2008 (dia 30)

O Senhor que amava as mulheres

Por Luiz Joaquim | 01.10.2008 (quarta-feira)

RIO DE JANEIRO (RJ) – “Juventude” (2008), de Domingos Oliveira, teve sua Sessão de Gala na noite de segunda-feira (um dia após seu diretor completar 72 anos) e mostrou-se, sem dúvida, ser um dos filmes mais felizes e simpáticos em competição na Première Brasil aqui no Festival do Rio. Antes de qualquer anáise fria, é mais importânte dizer que “Juventude” é lindo. Simples assim.

Oliveira, no filme, interpreta Antônio, um dramaturgo que também faz cinema (ou seja, ele mesmo). Uma das falas de Antônio diz que tem quase 70 anos mas se sente como se tivesse quase 7. O tamanho desse vigor juvenil de Oliveira só se compara em gigantismo a sua erudição diante das artes criadas pelo homem, e diante da arte criada por Deus: as mulheres.

Desde seu clássico “Todas as Mulheres do Mundo” (1967), a fascinação e a delicadeza de seu olhar para elas estava presente. Não é diferente em “Juventude”, cujo mote primeiro é um ensaio do significado de se chegar à velhice, com eco nas lembranças das primeiras descobertas amorosas, e tangenciando pelas opções profissionais, éticas e morais ao longo da vida. Para desenhar esse traçado acompanham Domingos em cena Paulo José (como David) e Aderbal Freire Filho (como Ulisses). Fora de cena está outro senhor de respeito, o diretor de fotografia Dib Lutfi.

O cenário é a paradisíaca casa em Petrópolis do milionário David, que recebe o médico falido Ulissses e o dramaturgo Antônio, amigos de infância, para relembrar a vida. Entre reclamações das limitações de saúde banhadas à whisky, os três resgatam um clássico português – “A Céia dos Cardeais” – que encenaram na adolescência, e revêem a vida amorosa, com uma tom entre a melancolia e a alegria (mas sempre com sabedoria) a respeito das ‘mulheres da vida’ deles.

É uma obra de um homem maduro, não só na vida, mas na expressão do que há de mais tocante criado pelo homem, a arte. “Juventude”, há um mês, levou quatro prêmios em Gramado (incluíndo direção, roteiro e montagem). E quem duvida do vigor de Domingos, é só esperar para ver seu outro filme novo e inédito, “Todo Mundo tem Problemas Sexuais”, aqui mesmo no Festival do Rio que o exibirá dia 8.

Dois destaques na terça-feira que elevaram o nível do Festival foram “A Viagem do Balão Vermelho” (2007), do chinês Hou Hsiao-Sien, com uma Juliette Binoche loira, e o hungaro “Delta”, de Kamél Mundruczó, que competiu em Cannes 2008.

Ambos têm um ritmo próprio, essenciais para a personalidade da história que querem contar. O primeiro é uma homenagem a “O Balão Vermelho” (1956), filme de Albert Lamorisse, e dividi-se entre uma estudante de cinema tawanesa que em Paris cuida do filho de dublê de marionetes Susanne. Existe também um balão vermelho, que só o menino vê, e é um personagem com sentimentos, mas aí imputado por nós espectadores, levados pelas mãos de Hsiao-Sien.

Já “Delta” coloca um irmão que volta a terra natal e descobre uma irmã que não sabia que existia. Juntos, constroem uma casa sobre palafitas literalmente no meio de um rio e vivem juntos. Há uma insinuação de incesto que é repudiada pela comunidade. Mundruczó dosa o ritmo num tempo próprio e administra a tensão, que cresce sempre. “Delta” conta ainda com uma trilha sonora poderosa, que só valoriza as imagens bem cuidadas do filme.

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