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Críticas

A Questão Humana

Sobre a psiquê e o coração

Por Luiz Joaquim | 16.01.2009 (sexta-feira)

“A Questão Humana” (La Question Humaine, Fra., 2007) do diretor Nicholas Klotz, e em cartaz no Cinema da Fundação (Recife), adentra por um terreno instigante, cavando em busca das raízes da afeição psicológicas de um veterano empresário. O ótimo ator Mathieu Amalric (“O Escafandro e A Borboleta”, “Um Conto de Natal”) está no filme como psicólogo do Recursos Humanos desta empresa que é convocado a Paris para verificar a sanidade do tal empresário, com o rosto do ator Michael Lonsdale (o dono da sapataria em “Beijos Proibidos”, 1968, de Truffaut)

O personagem de Amalric, Simon, goza de respeito com seus chefes por ser um excelente motivador dos funcionários e é por essa fama que Simon vai disfarçadamente abrir suas investigações com o empresário Mathias. Com o pretexto que prepara uma pesquisa envolvendo empregados que gostariam de reavivar uma orquestra amadora na empresa, Simon vai se aproximando do Mathias, que era um membro formal da antiga orquestra.

À medida que avança em suas descobertas, Simon descobre que a empresa, na verdade, ganhava dinheiro ilícito, e o colapso crescente na saúde mental de Mathias nada mais é que sua incapacidade de sofrer tanta pressão para manter o segredo. Também à medida que Simon aprofunda-se nas descobertas, mais ele caminha, por si próprio, para um colapso pessoal.

O diretor Klotz, e sua habitual roteirista Elisabeth Perceval – adaptando uma história de François Emmanuel – manténs os detalhes da degradação psicológica de Simon engessada no que se pode ver de concreto e físico do personagem. “A Questão Humana” não tem pressa (filme dura 143 min.), e o tempo aqui faz parte dos efeitos que a perturbação psicológica pode provocar.

Também não é um filme que deixa o clímax para os minutos finais, pelo contrário, Klotz e Perceval nos dão tempo suficiente para observamos Simon se aproximando de belas mulheres, dançando numa festa (ao som do New Order) e aplicando entrevistas, tudo de forma que possamos perceber os privilégios que sua classe pode obter, antes de descobrirmos o que compra esse privilégio.

O ritmo lento do filme pode deixar alguns espectadores impacientes, e seu esforço para encontrar equilíbrio moral entre crimes históricos da humanidade e as injustiças na prática moderna do mundo dos negócios nem sempre está bem coeso. De qualquer forma, temos mais uma performance visceral de Amalric, e Klotz agrega a isso sutis ironias entre a expressão musical e o rigor corporativo empresarial. “Música não tolera hierarquia”, diz um empregado, tentando explicar porque a orquestra desmoronou no passado. E “A Questão Humana” nos faz pensar o quanto o ser humano, como indivíduo, pode acreditar nas corporações empresariais.

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