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Críticas

Gomorra

Os vários tentáculos da máfia italiana

Por Luiz Joaquim | 01.01.2009 (quinta-feira)

Tentacular e anti-espetacular são duas formas de conceituar “Gomorra” (Ita., 2008), filme de Matteo Garrone que estréia amanhã no Cinema da Fundação. Tentacular porque o assunto parece não poupar ninguém, ao menos na Itália, e anti-espetacular pela forma que trata as questões extraídas do livro de Roberto Saviano, que deu origem ao filme, introduzindo o espectador em vários planos e o levando até o centro da plataforma da máfia napolitana, a Camorra.

Eleito o melhor filme europeu de 2008 e vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, “Gomorra”, a sua maneira, evita o cruzamento dos destinos de seus diversos personagens, preferindo olhar com atenção para seus protagonistas em suas esferas sem horizontes, e para os vários atores dessa organização criminal espalhados em diferentes níveis da sociedade, e em diversos domínios. Domínios que vão do controle dos dejetos industriais da Europa, passando pela alta costura até o controle do narcotráfico, e ainda quebrando barreiras continentais, chegando aos Estados Unidos.

Passeando por estes cenários temos dois adolescentes, fãs de Tony Montana (personagem de Al Pacino em “Scarface”), embevecidos com a liberdade e o poder que metralhadoras podem lhes dar enquanto sonham com glória e o glamour que espelham via Hollywood.

Temos um costureiro talentoso e explorado que tenta uma alternativa com chineses, fora do esquema opressor; temos o distribuidor de pensão para as famílias dos mafiosos “aprisionados” e insatisfeitos, dentro de um guerra criada por eles mesmo divididos em clãs; e temos o empresário do lixo tóxico que não poupa usar crianças para fazer um serviço literalmente sujo, enquanto seu aprendiz (nós espectadores) observamos a tudo incrédulo.

Há ainda uma criança, talvez a face mais perturbadora de todo o retrato, uma vez que ele flutua em sua inocência, dentro de um fluxo criminoso que ele não consegue discernir muito bem. Ele segue a correnteza pro ser…. uma criança.

Na trilha de todos estes personagens, a morte caminha bem próxima. Logo após uma seqüência de abertura na qual assistimos uma execução sumária, “Gomorra” sugere que virá um filme clássico de gângster, mas o que vemos na verdade é o efeito individual em pessoas comuns (trazidas à proximidade do espectador) vivendo sob uma tensão constante, de violência iminente, e que de fato exploda em nossa cara quando menos esperamos. Uma bomba.

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