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Críticas

Caramelo

No universo paralelo das mulheres

Por Luiz Joaquim | 07.08.2009 (sexta-feira)

Numa das mais encantadoras definições para o que seria a mulher, Goethe (1749-1832) questionava no romance “Afinidades Eletivas” (1809) se elas seriam invencíveis, pois “primeiro sensatas, para que não se possa contradizê-las; ternas, para que seja prazer cerder-lhes terreno; sensíveis, para que não se possa magoá-las; superticiosas, para amedrontar-nos”. Por mostrar um painel colorido, ora em cor fraca, ora em cor forte do universo feminino, a estréia desta semana do Cine Rosa e Silva é um belo filme onde os dizeres de Goethe encontrariam ressonância.

Trata-se da produção libanesa “Caramelo” (Sukkar Banat, 2006), de Nadine Labaki, pelo qual temos, através de um salão de beleza, com suas três funcionárias e uma cliente, um retrato ao mesmo tempo delicado e duro na relação familiar, profissional e afetiva dessas quatro mulheres – além da solitária tia de uma delas, com sua idosa mãe sofrendo de alzheimer. Ao mesmo tempo é curiosa a presença dos homens em “Caramelo”. Eles surgem quase como que peças complementar (mas determinantes) na vida dessas mulheres. Eles não aparecem aqui, entretanto, de forma ofensiva pois o foco, muito bem ajustado, não está neles mas sim no que é mais caro na íntimo delas.

A cabeça nesse enredo é a cabeleireira Layale (a bela Labaki) que vive um relacionamento condenado, com um homem casado, que ofusca a visão de seu orgulho próprio humilhando-a e ofuscando sua percepção para um policial bigodudo que a idolatra. Já sua colega Nisrine (Yasmine Elmasri) vive uma outra questão: está prestes a casar-se mas não é mais virgem (em Beirute isso pode sim ser um problema). Já a homossexual Rima (Joana Moukarzel), não consegue disfarça a atração por uma cliente absolutamente deslumbrante que insiste em lavar seus cabelos com ela.

De tabela, temos uma outra cliente que briga com a velhice enquanto tenta ter sucesso na cruel carreira de atriz; temos a tia costureira que titubeia em ceder aos assédios de um gentleman francês, e sua cômica mãe, a velhinha que vive num mundo próprio no qual, o que deixa dali transpararecer são exatamente seus aspectos femininos.

“Caramelo”, que concorreu ao Oscar de estrangeiro em 2007, nos apresenta diversos motes e conflitos para discussão, numa harmonia e fluência narrativa, agregando-se aí uma sensualidade elegantemente excitante para o espectador masculino. Num ritmo lacônico, que acompanha os sentimentos de seus personagens, o filme encerra com uma linda seqüência onde uma mulher trata o cabela de outra. Há aqui uma potente carga de significados que, talvez, jamais homem algum consiga alcançar a força de sua representação.

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