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Festivais

Festival do Rio 2009 (3 out)

Tempo bom para o cinema brasileiro

Por Luiz Joaquim | 04.10.2009 (domingo)

Rio de Janeiro (RJ) – Final de semana feliz para o cinema brasileiro no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Dentro do “Premiere Brasil’, programa lançador de novos curtas e longas-metragens nacionais, a noite de sexta-feira, no Cine Odeon, trouxe em sessão de gala (com presença do diretor) o intrigante “O Amor Segundo B. Schianberg”, de Beto Brant.

Logo na apresentação, Brant fez questão de deixar claro de que não se tratava de uma adaptação cinematográfica para “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, do livro homônimo de Marçal Aquino. Obra com a qual o realizador está envolvido há alguns anos. Na verdade o filme veio do desdobramento de um trabalho que o diretor fez para a TV Cultura e SESC TV chamado “Direções III”, pelo qual cineastas experimentavam novas linguagens para a teledramaturgia.

“Este filme foi apenas inspirado, livremente, num dos personagens secundário daquele livro”. Brant também pediu aos espectador para não se impacientar com as imagens sujas que estariam para ver. “Vai haver um estranhamento no início porque as imagens foram feitas com câmeras de segurança e o som também pode incomodar pelo baixa qualidade, mas é só ter paciência que depois a magia começa a funcionar”.

De fato, numa época em que se preza pela, cada vez mais, cristalinidade da imagem como idéia de beleza e verdade, o inventivo Brant nos oferece a baixa resolução dessas imagens como um instrumento invasor dentro de seu casal protagonista. Quase que totalmente gravado dentro de um apartamento paulistano, “O Amor Segundo…” parece quebrar a segurança e intimidade de Thiago (Gustavo Machado, que também será visto em “Quanto Dura o Amor”) e Gala (Marina Previato).

Brant nos coloca bem próximo do cotidiano desse casal, e nisso podemos acompanhar a euforia típica do iníco de uma relação até o seu desgaste, com direito a anunciação de verdades corrosivas de um para o outro. O contrato de união entre os dois basea-se num vídeo que Gala quer fazer tendo o ator Thiago e sua técnica de representação como objeto. A história segue então um percurso de interesse artístico, depois sexual para depois desacelerar tudo isso e questionar a verdade dos sentimentos de cada um.

“O Amor Segundo…” é também um filme, como “Moscou” de Eduardo Coutinho, que confunde o espectador no que diz respeito da fronteira entre o que é real ou natural na performance do atores. Numa bela sequência, por exemplo, Gala exercita a representação de um choro para depois nos desnortear dizendo: “Acho que eu tô triste de verdade”.

Do Rio Grande do Sul, veio, no sábado, “Antes que O Mundo Acabe”, estreia de Ana Luiza Azevedo dirigindo um longa. Roteirizado com Jorge Furtado, Paulo Halm, Giba Assis Brasil, além de Azevedo, o filme estreou em Paulínia, onde levou alguns prêmios, entre eles o da crítica. Foi merecido pois trata com esmero e inteligência os dramas da adoslescência a partir de Daniel (Pedro Tergolina) , vivendo numa cidadezinha de 15 mil habitantes, que perdeu a namorada, tem o melhor amigo acusado de ladrão por sua causa e ainda precisa administrar a reaproximação de seu ausente pai biológico. Filme entra em cartaz em abril de 2010.

Assim como “Houve uma Vez dois Verões”, de Furtado, o filme de Azevedo vale pela autenticidade como trata os conflitos da adolescência. Consegue fazer o espectador sofrer junto com seus jovens personagens, e dá consistências aos personagens satélites, criando um universo crível e envolvente com o que é mostrado.

Apenas um vício humorítico borra a organicidade do roteiro. Trata-se da confusão de sujeitos numa conversa, dando margem a mal-entendidos entre seus interlocutores, bem comum aos roteiros de João Falcão e cia. Por exemplo, quando Daniel conversa com a mãe e ela fala da ex-namorada dele, lhe pergunta: “Como ela está?”, e Daniel, “o que? A bicicleta?”. Isso porque o assunto anterior era a bicicleta e não a ex-namorada. Estas brincadeiras no roteiro só fazem salientar que ali está um roteiro pré-pensado pra fazer graça.

Outro bom filme, menos explícito no discurso, foi o alternativo norte-americano “O Queridinho da Mamãe” (Mommi`s Man, 2008), de Azazel Jacobs. Aqui um homem adulto (Matt Boren), casado com uma filha e morando em Los Angeles, viaja a trabalho para Nova Iorque e, ao visitar os pais, mergulha na sua infância quando revê suas coisas e amigos daquela época.

É quando entra num processo de relaxamento, renegando as responsabilidade de vida adulta para a preocupação dos pais que olham tudo atônitos. Destaque para Flo Jacobs, que interpreta a mãe. Uma tipica superprotetora que, na sequência final prova que estava certa em seus temores e que o colo da mãe às vezes é o lugar mais seguro do mundo.

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