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Festivais

20o. Cine Ceará (2010) – noite 5

O Nordeste em foco no Cine Ceará

Por Luiz Joaquim | 30.06.2010 (quarta-feira)

FORTALEZA (CE) – Foi uma noite dedicada ao universo nordestino, a julgar pelos curtas-metragens exibidos no quinto dia deste 20º Cine Ceará: Festival Ibero Americano de Cinema. A começar pelo pernambucano “Ave Maria ou Mãe dos Sertanejos”, de Camilo Cavalcante, vencedor de três Candangos (filme, fotografia e som) no 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Apesar da projeção escura no Sesc/São Luiz, a bela fotografia de Beto Martins realizada para “Ave Maria…” expondo a beleza do sertanejo pernambucano, casada com a mão poética de Camilo, agradou a pequena platéia no cinema da Praça do Ferreira. Mas sucesso mesmo aconteceu para “Supermemórias”, primeiro curta dirigido pelo experiente técnico de som cearense Danilo Carvalho.

A partir de cerca de 500 rolos de Super-8 filmados nos anos 1970, cuja arrecadação pela produção se deu através do site do filme e de anúncio em jornais fortalezenses, Danilo montou um caleidoscópio de imagens sentimentais que passeiam pelas ruas da Fortaleza daquela década, como também por imagens caseiras agrupadas por temas como parto, casamentos, velhice, desfiles patrióticos e a diversão na praia. Destaque para a captação e edição de som, toda refeita nos dias de hoje para cobrir as belas images granuladas do velho Super-8.

Ainda olhando para Fortaleza, mas em tom de despedida e em imagens contemporânes, foi o trabalho de conclusão num curso de audiovisual da Universidade Federal do Ceará feito por Gláucia Soares em “Cidade Desterro”. Gláucia revisita os oito endereços onde residiu na cidade antes de sua viagem definitiva (conforme o filme) para a Itália. Sem personagens em quadro, apenas com sua voz em off expondo seus sentimentos ultra-pessoais sobre aquela realidade enquanto cobre imagens quase aleatórias, o curta poderia ser chamado de “Viajo Porque Preciso, mas Não Volto”, só que a uma distância grande da coerência e beleza do filme de Marcelo Gomes e Karin Aïnouz.

O último curta foi do tocatinense radicado em São Paulo, Hermes Leal. Editor há cerca de dez anos da Revista de Cinema, e ex-documentarista pela extinta TV Manchete, o filme “Dona Militana: A Romanceira das Oiteiras” tem como objetivo primeiro chamar a atenção para a importância dessa figura única da cultura nordestina (falecida há duas semanas), dona, na memória, da lembrança de 55 raras canções ibérica. Mesmo tendo sido agraciada por uma medalha pelo Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, Dona Militana vivia na miséria no interior potiguar. Hermes fez um filme correto, sem arroubos linguísticos e econômico na pesquisa.

ESPANHOL
O longa-metragem em competição na noite de segunda-feira foi o espano-francês “A Mulher Sem Piano” ( La Mujer Sin Piano, 2009), de Javier Rebollo, representado no festival pelo seu produtor, Damián París. Foi curiosa a apresentação de París no palco do Sesc/São Luiz: “Este é um filme protagonizado por uma mala e um par de sapatos”, disse.

Sem pressa no seu ritmo, em enquadramentos precisos sob uma luz e tom melancólicos, “A Mulher…” nos apresenta 24 horas da vida da dona de casa madrilhenha, Rosa (a boa Carmen Machi). Casada com um taxista constantemente ausente pelo trabalho – e “ausente” mesmo quando está fisicamente em casa – Rosa divide sua vida entre as tarefas domésticas e o serviço de depilação que oferece em sua própria residência. Certa noite, decide deixar tudo para trás e, de peruca, com sua mala, decide deixar Madrid, mas é sempre impedida por alguma circunstância prática.

Delicado na construção deste universo que cerca Rosa, o filme criar diversas (e boas) situações nas quais tudo é negado a esta mulher solitária. Mulher que também nunca questiona seu destino e vê na fuga a resposta para seus problemas. Um belo filme na competição cearense.

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