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Festivais

20o. Cine Ceará (2010) noite 6

A perda da inocência pelos argentinos

Por Luiz Joaquim | 01.07.2010 (quinta-feira)

FORTALEZA (CE) – Ontem (quarta, 30) à noite, o 20º Cine Ceará: Festival Ibero Americano de Cinema exibiu sua última rodada da programação competitiva (ainda não vista enquanto escrevemos este texto), mas a projeção do concorrente argentino na terça-feira (29) à noite – “O Último Verão de La Boyita” (2009), segundo longa-metragem de Julia Solomonoff – deixou forte impressão de que estávamos diante do mais forte concorrente ao troféu Mucuripe de melhor filme.

Tendo como ponto de explosão dramática a descoberta da sexualidade diferenciada do garoto Mário (Nicolás Treise), de 14 anos, numa arcaica colônia alemã em 1986, a 400 quilômetros de Buenos Aires , “O Último Verão…” remete imediatamente ao excelente (também argentino) “XXY” (2007), de Lucía Puenzo. Perguntamos aqui ao produtor Pepe Salvia se havia algum receio de comparação entre os dois filmes por parte da equipe, ao que ele respondeu que, apesar da diferença de dois anos entre o lançamento de um e outro, ambos projetos foram realizados na mesma época, e sem nenhum comunicação entre eles.

De qualquer forma, a esfera de alcance de “O Último Verão…” é muito mais abrangente que a de “XXY”. A começar pela protagonista. A menina de 13 anos Jorgelina (a linda e talentosa Guadalupe Alonso) está naquela fase em que começa a ser rejeitada pela irmã mais velha, que já menstruou, e vê mais interesse nos rapazes que na caçula Jorgelina.

A própria transformação pela qual passa o corpo da irmã estimula a curiosidade da pequena, que vai buscar respostas nos livros de medicina do pai. Nas férias de verão, numa viagem a fazenda no interior, Jorgelina procura o amigo Mário mas percebe que ele está retraído e estranhamente “doente”. Depois de suportar o segredo do amigo até onde sua preocupação com a saúde dele permitia, Jorgelina pede ajuda ao seu pai, e passa por um processo de culpa.

Toda a estrutura de evolução dramática criada por Solomonoff, ladeada pela atmosfera bucólica da região – em que a fotografia atenta-se para detalhes que passam despercebido pelos adultos mas nunca pelas crianças -, dão uma carga quase sagrada ao filme nesse momento tão fundamental e grave da transição para a adolescência. Agrege-se a isso a condução do elenco infantil, absolutamente à vontade diante da câmera, o que emprestou alta potência dramática (sem arroubos e extravagancias) ao resultado da trama.

Na sequência final, Solomonoff mostra o quanto um efeito simples do cinema, como o fade-out (escurecimento da imagem) pode ser eloquente na narrativa, desde que precedido por um contéudo temático muito bem elaborado.

Em tempo: Boyita, explicou Pepe Salvia, é uma invenção argentina. Trata-se de treilers anfíbios, que funcionavam tanto na terra como na água, mas deixaram de ser fabricados uma vez que nos lagos não tinham estabilidade e eram virados pelos ventos, tendo provocados inclusive algumas mortes. “O Último Verão de La Boyita” levou o prêmio do público no último festival de Toulouse, França.

CURTAS
Apenas três curtas-metragens compuseram a noite de terça-feira. Os paulistas “Avós” de Michael Wahrmann (que esteve no Festival de Berlim), e a animação “Um Lugar Comum”, trabalho de conclusão do curso Imagem e Som da Universidade de São Carlos, um crescente polo de animação no interior paulista, feito por Jonas Brandão. Este último exibiu no 2º Animage, do Recife.

O terceiro filme foi o mais que bem aceito “Os Amigos Bizarros do Ricardinho”, de Augusto Canani, cujo ator Ricardo Lilja (representando ele mesmo) finalmente compareceu a um festival, depois de sair vencedor pelos prêmios de ator (Lilja) e montagem no Cine-PE, e direção de arte em Brasília.

Ricardinho (como todos já o chamam por aqui) comentou, com sua voz frágil e sotaque gaúcho de Viamão, que depois do filme não precisa mais explicar o motivo de sua tremedeira e que no próximo mês vai atuar em outro filme de Canini, desta vez ao lado do veterano ator Osmar Prado. O projeto chama-se “Amores Passageiros”.

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