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Festivais

14° Tiradentes (2011) – noite 3

Presente para o público

Por Luiz Joaquim | 24.01.2011 (segunda-feira)

TIRADENTES (MG) – Para a terceira noite, domingo, da 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes sua curadoria programou talvez os dois longas-metragens mais comunicativos de toda a seleção do evento. Ambos exibidos no Cine-Tenda, o primeiro, às 20h, era “Malu de Bicicleta”, de Flávio Tambellini, com Marcelo Serrado e Fernanda de Freitas (com os três premiados em Paulínia); o segundo foi o “VIPs”, de Toniko Melo, vencedor do prêmio do Júri no último Festival do Rio, com Wagner Moura no elenco.

Sobre “Malu…”, numa revisão, o filme manteve o seu frescor. Adaptado da obra de Marcelo Rubens Paiva, fala do trintão mulherengo de São Paulo, Luiz Mário (Serrado) que é atropelado pela carioca Malu (Fernanda) com sua bicicleta, e descobre que, por ela, abriria mão de todas as outras.

O filme de Tambellini tem ritmo redondíssimo, humor (longe do apelo burro habitual das ‘globochanchadas’), dramaturgia envolvente, boa música (trilha de Dado Villa-Lobo e canções de Fausto Fawcett), e atores em afinação absoluta. E o melhor: apesar de, aparentemente, Tambellini insistir em chamar a atenção do enredo para o efeito do ciúme de Luiz sobre Malu (ele ressaltou isso na apresentação de domingo e em Paulínia), “Malu de Bicicleta” suscita outras camadas de reflexão mais interessantes sobre o amadurecimento amoroso de um homem. E faz isso com aproveitamento impressionante por poucos elementos.

Em termos básicos, Luiz sofre por não compreender o que acontece com ele. E o preço de sua ignorância é muito alto. É difícil também não associar “Malu…” com “Todas as Mulheres do Mundo”, ode feita em 1966 por Domingos Oliveira sobre o poder do arrebatamento que uma única mulher pode provocar mesmo no mais paquerador entre todos os homens. Malu é a Maria Alice dos anos 2010.

Sobre “VIPs”, é um filme que deverá interessar imediatamente aos pernambucanos quando entrar em circuito comercial. Já na abertura, vemos imagens aéreas da Avenida Guararapes durante o Galo da Madrugada. Quem as vê é Wagner Moura, excitado de um helicóptero na pele do golpista Marcelo da Rocha. Para quem não lembra, o maior trambique deste personagem real foi se passar no Recife por Henrique Constantino, filho do dono da empresa aérea Gol, em outubro de 2001, durante o extinto Recifolia, carnaval antecipado, então promovido pela prefeitura da cidade.

Em “VIPs” há um pequeno ranço publicitário estético que distrai o espectador do foco. Na verdade um foco não tão claro que ora parece vitimizar a malandragem do Marcelo, ora parece evocá-la. O que há de muito bom é a presença de Wagner Moura, comprovando cada vez mais ser um dos melhores de sua geração. Um dos grandes desafios aqui foi interpretar o Marcelo adolescente, com uma peruca esquisita, mas que conseguimos esquecer pela força do ator.

Antes dessa programação, no final da tarde de domingo, dentro do programa Panorama, de curtas-metragens, houve a estreia nacional do digital recifense “Uma Noite em 1968”. Na apresentação, o diretor Ionaldo Araújo revelou ter tido o longa “Uma noite em 1967” (2010), de Ricardo Calil e Renato Terra, como inspiração. “Achava que o que aconteceu no 3° Festival da Canção de 1968 também merecia ser falado”.

Esse acontecimento refere-se ao prêmio de primeiro lugar ter ido para “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim (mostrada sob vaias em imagens de arquivo do festival), em detrimento a “Caminhando e Cantando”, de Geraldo Vandré. Para a performance de Vandré, Ionaldo preferiu mostrar a tela preta, como um luto contra a “marmelada” e tudo o que Vandré viria a sofrer depois. Apesar de bastante aplaudido ao final, o efeito do blackout dividiu a platéia, com alguns se concentrando na canção e outros se distraindo com o nada de imagens a sua frente.

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