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Festivais

35o Mostra SP (2011) – dia 4

A vez dos brasileiros

Por Luiz Joaquim | 26.10.2011 (quarta-feira)

SAO PAULO (SP) – Com tantas opções internacionais raras de exibições na 35a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, os títulos brasileiros (e eles são muitos) ficam um pouco relegados pelos cinéfilos paulistanos. Dessa forma, são poucas as obras que realmente são disputadas pelo exigente espectador da Mostra. E estas estão vinculadas ao nome de realizadores já grandes, como Beto Brant e Eduardo Coutinho.

Brant, que apresentou por aqui o seu “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, baseado no romance homônimo de Marçal Aquino, tem nesse projeto um caminho com mais de cinco anos de produção, pela necessidade de captar recursos diversos que o possibilitasse filmar no Norte do Brasil. Com tudo isso, veio também uma expectativa grande para o novo trabalho deste que é um dos mais talentosos realizadores brasileiro de sua geração.

Mas, de modo geral, a recepção não foi calorosa. A história de Lavínia (Camila Pitanga), a mulher misteriosa, que casada com um pastor (Zé Carlos Machado) no interior do Pará é pacata e discreta, mas que ao se envolver com o fotografo paulista Caubi (Gustavo Machado) vira um furacão sexual, parece ficar na superfície de um drama que é muito mais intenso do que se vê na tela.

Da mesma forma, a inserção de questões regionais parecem não funcionar organicamente na trama, assim como a opção da fotografia coloridamente manipulada em alguns momentos, distraindo mais que contribuindo para o papel da tensão social na história de amor de Lavínia. Crédito merece a Camila Pitanga, em participação memorável, na qual nem é o sexo que gera a imagem mais forte aqui, mas a de uma espécie de exorcismo do “mau” pela regurgitação. Impressionante.

Já Coutinho, que amanhã (quinta, 27) apresenta ao público de São Paulo o seu “As Canções”, deverá conquistar corações por aqui como o fez no Festival do Rio há poucas semanas (foi ali o melhor filme pelo júri popular e melhor doc. do júri oficial). Aqui a idéia é, a princípio simples, fazer as pessoas falarem da “música de sua vida” e como ela se tornou tão importante assim além de, claro, os personagens cantarem para a câmera.

O cenário é um palco escuro com uma cadeira escura, no qual o brilho vem apenas dos 18 entrevistados. Com “As Canções”, Coutinho volta ao processo fílmico que vinha construindo até “Jogo de Cena”, obra que o colocou numa caçapa pela engenhosidade narrativa. “As Canções” não é, entretanto, um filme menor por isso. Pelo contrário, é mais uma prova da capacidade de Coutinho em extrair o melhor do ser-humano e a eles devolver, ou melhor, a nós, na plateia.

Do exterior, um aparente consenso vem conquistando o público. Trata-se “O Garoto da Bicicleta”, dos irmãos belgas Dardenne. É curioso como o novo filme soa como a sequência de outro sucesso da dupla, “A Criança” (2005). Isso porque ali, o personagem do ator Jerémie Renier abandona o filho recém-nascido, e aqui seu personagem é o pai que renega o garoto Cyril (o excelente Thomas Doret), com cerca de dez ano.

O que parece mais impressionar nessa tocante crônica sobre uma criança revoltada a procura de amor legítimo, é a capacidade dos Dardenne em imprimir (e dirigir) características absolutamente convincentes e coerentes num personagem infantil dessa natureza. Crianças são crianças. E isso resume tudo. As “crianças adultas” criadas por Hollywood deveria envergonhar-se diante de Cyril.

Da França, Bruno Dumont largou por aqui o seu forte “Fora de Satã”. Acontece num cenário de horizontes largos, perto do Canal da Mancha francês. Lá vive um mendigo taciturno, que caça, reza e acende fogueiras. Quem lhe ajuda é uma garota, a quem ele protege do demônio que ronda o lugar. Dumont cria um universo próprio aqui, no qual a tensão não dá refresco um só minuto.

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