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Reportagens

Um gigante a espera de seu público

Bons filmes, boa projeção, pouco público

Por Luiz Joaquim | 20.03.2012 (terça-feira)

Ele está lá de pé na rua da Aurora, há 60 anos, imponente em sua beleza e aberto a qualquer pessoa que queira apreciá-lo. Não é exagero, nem é preciso ter rodado o mundo inteiro para saber que o cinema São Luiz (no Recife) é um tesouro cultural e arquitetônico raríssimo de encontrar em qualquer país. Isto não é novidade, mas o que o recifense parece não ter captado ainda é que o espaço está vivo de novo. Voltou a existir e ter um sentido movido pela sua primeiríssima razão de ser, que é exibir (bons) filmes em condições adequadas.

Funcionando de terça-feira a domingo (é fechado na segunda-feira), o palácio oferece três sessões por dia – no domingo são quatro, sendo duas direcionadas às crianças. São sessões divididas entre três filmes que o programador Geraldo Pinho pensa e busca para, ao mesmo tempo, movimentar o espaço e educar o olhar do espectador.

Geraldo foi convocado em abril de 2011 pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para ocupar esta função. Antes de assumir, o cinema passou por um recesso e, antes disso, programava títulos como a ‘globobagem’ “De Pernas pro Ar”, filme de Roberto Santucci. Eram sessões em péssimas condições de refrigeração, projeção de imagem e som.

Nestes 11 meses, o esforço do programador não tem sido apenas o de buscar um perfil de programação para o cinema, mas também o de observar seus problemas técnicos e trabalhar pesado junto a equipe da Fundarpe para resolvê-los. Neste quesito técnico os primeiros resultados, pode-se dizer, já são empolgantes.

Num ambiente sob condição climática agradável e com projeção nitída, o São Luiz é hoje um cinema que não deve, nestes aspectos, nada a qualquer sala de projeção do Recife. Pelo contrário, chega até a superar algumas delas, considerando a correção no ajuste do foco que se vê em sua tela. Não é incomum, em alguns cinemas da cidade, mesmo nos shopping centers, termos sessões vergonhosamente fora de foco em algum ponto da tela, ou nela inteira. Já o São Luiz exibindo hoje “A Árvore do Amor”, um filme em cinemascope (proporção na tela de 1 : 2,35) cujo ajuste focal é ainda mais delicado, seu resultado está perfeito.

“Hoje estamos operando com uma lâmpada de 2000 watts mas em breve teremos uma de 3000 watts”, diz Geraldo. Isso significa uma ganho de 50% no brilho além do atual. O programador ainda adianta outro detalhe técnico. Quer operar com um ajuste de amperagem no projetor a 95 ampere e não em 80 ampere, como está hoje. “A projeção vai ter um brilho tão intenso que o espectadores vão precisar de óculos escuro para ver filme no São Luiz. E não estou falando de filme 3D”, brinca.

O único senão técnico do São Luiz ainda é sua capacidade de reprodução sonora. Sem um sistema Dolby surround (que envolve a platéia), o palácio vem operando em sistema mono e ainda é possível escutar um discreto zumbindo da caixa central, por trás da tela. Entendedor de sua limitação, Geraldo planeja que até setembro, quando o cinema completa 60 anos no dia 6 daquele mês, este último quesito esteja resolvido.

Ainda sem poder adiantar detalhes, o programador deseja, na verdade, preparar uma bela e extensa grade de programação na data de aniversário do cinema. Uma celebração a altura do espaço, cuja importância o governador Eduardo Campos já compreendera em 2008, quando assumiu sua administração e o comprou do Grupo Severiano Ribeiro em agosto de 2011 por R$ 2,5 milhões (além do R$ 1,3 milhão antes investido em restauração).

Resta agora a população pernambucana fazer a sua parte. Comoter o “sacrifício” de Pagar R$ 4,00 (R$ 2,00 estudante) e se submeter ao prazer de se submeter a uma sessão de cinema para ver um bom filme.

Boas ofertas de filmes

Os três filmes em cartaz esta semana (até quinta-feira) no cinema São Luiz são o infantil americano “O Gato de Botas”, de Chris Miller (que só exibiu no domingo), o chinês “A Árvore do Amor”, de Zhang Yimou, e o francês “Os Nomes do Amor”, de Michel Leclerc.

Este último é um filme inédito no Recife, foi lançado aqui por Geraldo Pinho. A comédia romântica conta a história da bela Bahia (Sara Forestier). Bahia é filha de uma ex-hippie francesa com um argelino. A moça é uma ativista de esquerda que usa seus atributos femininos e leva para cama os seus oponentes para convencê-los a mudar de lado.

Divertido, a título humorado mostra de maneira leve e original como as aparências enganam. A performance de Forestier lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no César 2011, o “Oscar do cinema francês”.

Já “A Árvore do Amor”, do veterano Zhang Yimou (“Lanternas Vermelhas”) nos remete ao passado, num dos momentos mais radicais do comunismo chinês. Ali ele resgarta a história real de um romance impossível. Apresenta a pobre garota Jing (a delicada atriz Dongyou Zhou), cujo pai foi preso pelo governo chinês e a mãe, acusada de capitalista, sofre represália.

Jing estuda para ser professora e ter a chance de trabalhar nos paupérrimos campos chineses durante a Revolução Cultural e daí a ajudar a família. Para não perder esta chance ela precisa ter um conduta impecável. O conflito surge quando Jing conhece Sun (Shawn Dou), filho de um oficial por quem se apaixona. Em função das origens distintas, os dois são obrigados a conter seus sentimentos.

Como de costume, Zhang Yimou conta sua história com precisão de diálogos e imagens. O ritmo é calmo, em consonância com as necessidades e limitações de seus protagonistas. Os atores Dongyou e Shawn combinam na tela e a personagem Jing é de uma comovente pureza, cada vez mais rara de se reconhecer no cinema.

Geraldo Pinho garante que a sessão infantil das 15h já é um sucesso, fazendo filas grandes ao redor do prédio para comprar ingressos, e enchendo o São Luiz com crianças. Mas os adultos ainda não comparecem nas outras sessões, como a do último sábado, cuja reportagem doCinemaEscrito testemunhou, com não mais de 30 espectadores, lamentavelmente.

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