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Morre Diva Pacheco

A artista faleceu aos 73 anos

Por Luiz Joaquim | 17.07.2012 (terça-feira)

Amanheceu triste o dia de ontem para a cultura brasileira. Faleceu aos 73 anos, às 9h30 desta sexta-feira (20), a atriz pernambucana Diva Pacheco. A artista, referênca maior no espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, estava internada desde quinta-feira na Unidade de Terapia Intensiva da Unimed Caruaru, no Agreste pernambucano. Ela sofreu uma parada cardiorrespiratória decorrente de um acidente vascular cerebral, quando a equipe de emergência do hospital foi acionada. Diva também vinha sendo tratada há cerca de dois meses, quando procurou o oncologista Carlos Laerson com um incomodo no pescoço. A suspeita do cancer na tireóide foi confirmada por uma biópsia que identificou as celulas doentes.

Sob o pesar da ausência de sua maior referência, a filha Xuruca Pacheco lembrou que a mãe era como “aquelas pedras de Nova Jerusalém. A grande força de tudo ali era ela. A gente sabe que as pessoas estão aqui de passagem e cada um tem uma missão. A dela foi cumprida. Era uma pessoa simples que alcançou reconhecimento inclusive no exterior. Além da referência no trabalho como figurinista ou atriz, ela era minha amiga para tudo, inclusive para farras. Minha alma era a alma dela”, comentou a irmã de Nena, Pedro, Flávio e Robson Pacheco.

Robson fala da mãe como um grande exemplo de amor a arte e cultura. “Ela já nasceu artista e levou toda a vida assim. Era uma guerreira, companheira, amiga e acima de tudo alegre, deixando os outros alegres também. Foi a grande companheira de Plínio [Pacheco, seu marido, falecido em 2002] e sem seu apoio Nova Jerusalém não teria acontecido”, recorda.

Paulo de Castro, companheiro figurinista de Diva em sucessos teatrais dos anos 1970 como “Maria Minhoca” e “A Revolta dos Brinquedos” – que ficaram em cartaz por mais de 15 anos -, além do filme “A Batalha dos Guararapes” (1978), lembrou os quase 30 anos de convivência ao seu lado “A palavra que a define é guerreira. As pessoas falam sempre de Plínio ao lembrar de Nova Jerusalém, mas sem Diva não haveria nada. Era uma mulher a frente de seu tempo, sempre preocupada com ações para criar trabalho para seu povo. Povo que defendia com muita brabeza, mas uma brabeza para o bem. No lado pessoal, encarou com muita dignidade todos problemas. Ela agora descança com todos os meritos que um ser humano poderia receber”, concluiu.

Para o diretor de políticas culturais da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico, Carlos Carvalho, que trabalhou por 20 anos com a dama do teatro, ela era a “alma de Nova Jerusalém. Representava determinação e companheirismo. Era destas pessoas que gostam de receber os amigos e fazia do lugar do trabalho um lugar para se sentir bem. E na hora da responsabilidade, era um vulcão”. Já o crítico e pesquisador Luiz Reis ressalta o legado deixado pela atriz. “Era uma mulher tão impressionante, tão incrível que podemos dizer sem dúvida que a vida cultural pernambucana deve muito a ela. Foi por muito sacrifício de sua vida pessoal e familiar que ela tornou concreto o sonho de Plínio. Ela deu a vida, sobretudo, à cultura no Agreste Pernambucano. Todos que gostam de arte e cultura no Estado estão tristes e ela merece todas as homenagens”.

O velório de Diva Pacheco teve início na tarde de ontem, em Fazenda Nova e o sepultamento acontece às 9h de hoje no mesmo local. “Ela será enterrada num espaço que construímos aqui chamado Parque das Orquídias, onde meu pai também foi enterrado em 2002. Ela ficará ao lado dele”, informou Robson Pacheco.

CARREIRA
A atriz, figurinista, carnavalesca, artistas plástica e escritora Maria Diva Lucena de Mendonça Pacheco nasceu em 1939, no Distrito de Fazenda Nova, município do Brejo da Madre de Deus, onde, na Vila de Fazenda Nova, ainda criança já estreara em encenações dirigidas pelo irmão Luiz Mendonça. No final da década de 1950, casou-se com o jornalista, militar e teatrólogo Plínio Pacheco, idealizador e construtor da Cidade-Teatro de Nova Jerusalém.

Ali, por mais de uma década, viveu uma das mulheres da corte de Herodes, e Maria no espetáculo da Paixão de Cristo. Atuou também como figurinistas em diversas peças teatrais, assim como no cinema, em filmes como “A Batalha dos Guararapes” (1978) e o clássico “A Noite dos Espantalho” (1974), de Sérgio Ricardo, no qual atual com Alceu Valença. Aparece também no drama “Faustão”, dirigido por Eduardo Coutinho em 1971, e da nova geração do cinema local, Diva trabalhou com Lírio Ferreira no curta-metragem “O Crime da Imagem” (1992).

Na televisão, a artista atuou como assistente de arte na novela “Roque Santeiro”, da TV Globo. Em 1979, foi atriz e figurinista no especial “O Boi Misterioso e o Vaqueiro Menino” da Rede Bandeirantes. Um ano depois, de volta a Globo, foi assistente de arte no especial “Morte e Vida Severina”. Em 2005 foi convidada pelo ator e diretor Miguel Falabella, para interpretar a personagem Sulanca, na novela “A Lua me Disse”.

Sempre mencionada por sua alegria pelos amigos, Diva era também uma carnavalesca que marcou sua época. Durante quase uma década foi campeã pelas fantasias em desfile nos bailes “Balmasqué”, “Municipal do Recife” e, inclusive no Rio de Janeiro, no Sírio Libanês. A artista também foi autora “Reu-Réu, se dessa eu escapei, já sei que vou pro Céu” (1973) e “Sobras de Terra”, lançado em 2001.

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