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Entrevistas

Entrevista: Jordana Berg (Últimas Conversas)

Outras conversas

Por Luiz Joaquim | 17.05.2015 (domingo)

Em cartaz no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Recife), “Últimas Conversas” foi o último filme dirigido por Eduardo Coutinho e só foi concluído pela determinação do produtor João Moreira Salles com a montadora Jordana Berg, a profissional que editou todas as obras de Coutinho desde “Santo Forte” (1999). Tendo suas entrevistas feitas em novembro de 2013, “Últimas Conversas” ganhou um novo direcionamento após a morte do cineasta em 3 de fevereiro de 2014. Nesta entrevista, Jordana fala dos conflitos e angústias de Coutinho com o projeto, das estratégias para animá-lo, das opções narrativas decididas para concluir o filme e de um projeto audacioso da produtora VideoFilmes a partir de material bruto que detém dos últimos filmes do cineasta.

Entrevista: Jordana Berg

É impactante ver a imagem de Coutinho na figura do entrevistado. A imagem foi captada como opção para um extra de DVD? Pode falar da decisão de iniciar o filme assim?

Coutinho estava muito inseguro em relação ao que ele ia conseguir com este filme. Estava achando que não ia conseguir nada de interessante dos adolescentes. A equipe estava preocupada e, por eu ter mais intimidade com ele, me chamaram quase em caráter de emergência para conversar com Coutinho. Cheguei no set e a equipe teve a sensibilidade de deixar a câmera e o som ligados. Tivemos uma conversa muito profunda. Com ele dizendo que ia sentar no lugar dos entrevistados e deixar o jovens lhes fazer perguntas, provoquei: -vamos fazer isso agora?-. Ele topou na hora. Apesar de saber que estava sendo filmado, exposto, ele falou da sua insegurança e provavelmente não incluiria isso no filme.

Exato. E podemos dizer que sua insegurança o acompanha desde “O Fim e o Princípio” (2005), mas aqui essa dúvida é objetivamente dita por ele no próprio filme.

Sim, e isso foi deliberado. Quando montei o filme com João [Moreira Salles] não pensamos se era certo ou não. A gente precisava era ser fiel ao Coutinho e, por mais paradoxal que isso seja, significava não tentar fazer o filme que ele faria, mas sim que incluísse o processo do encontro. Daí buscamos no material bruto o quanto dessas frestas em que ele aparece tinhamos de interessante para utilizar.

O projeto tinha o nome de “Palavra”. Como foi a decisão pela mudança do título?

Os projetos de Coutinho sempre tinha uma nome de “guerrilha”. “Moscou”, por exemplo, era “Antes da Estreia”. Ao longo do tempo, o novo projeto foi tomando outro rumo. E mudou. “Palavra” ou “As Palavras” não pareciam justos. Não apenas por a gente protagonizar a autoria, mas também porque não correspondia fielmente ao processo. A ideia foi ser o mais perto do concreto do que representa o filme, como Coutinho sempre fez. “Edifício Master” era sobre o edifício Master. “Canções” era um filme feito a partir de canções. E “Últimas Conversas” foi o que aconteceu aqui.

Nestes últimos doze filmes que montou para Coutinho, você percebia mudanças em seu método?

Foram 19 anos trabalhando juntos e a gente se afinou, se sincronizou muito rápido. Mas tínhamos muitas disputas nas decisões do corte da montagem. Às vezes ele ganhava e às vezes ele perdia. E topava perder. Assim, a cada novo filme sua lista de queixas aumentava. E isso aconteceu até o fim.

Como surgiu a ideia de inserir a menina Luiza como personagem, a ideia original era com o filme apenas com adolescentes, correto?

Inicialmente a ideia era fazer com crianças. Mas não foi possível. Daí que ele alterou para fazermos com adolescentes. Por isso ele ficar chorando “o leite derramado” no depoimento que está no filme. Mas aí combinamos com a Luiza no último dia de filmagem para ele ter a sensação de como seria o filme que queria fazer. Sem ter intenção de usá-la no filme, Coutinho nem pediu para decupar [transcrever] a entrevista com ela. Mesmo se Coutinho tivesse falecido em outras circunstância e tivéssemo que concuir o filme sem ele, Luiza fecharia por conta daquele encontro, com Coutinho mais próximo da morte, por ser um idoso, e ela no comecinho da vida dela.

Há ainda algum material inédito que foi conduzido por Coutinho e que a Videofilmes pensa em lançar?

Há um material inédito, feito para um possível filme, que ele captou há três anos. Mas o projeto foi abortado. A gente não considerou continuar na época, apesar de termos as imagens pré-montadas. Não sei se deverá ser lançado. Existe, entretando, uma conversa minha com João, ainda remota, embrionária, para um futuro próximo ou distante, em fazermos um filme a partir de 1.000 horas de material bruto dos filmes de Coutinho. Não seria o caso de remontar, mas abordar o material bruto em si e refletir sobre ele. No momento ainda estou assustada e não consigo pensar sobre o assunto. Passei um ano trabalhando sobre o material de “Últimas Conversas”

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