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Festivais

40. Mostra SP (2016) – os poloneses

O novo oxigênio (e outros “combustíveis”) do cinema polonês.

Por Luiz Joaquim | 27.10.2016 (quinta-feira)

SÃO PAULO (SP) – Ah, esses poloneses… Nesta 40a edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo eles ganharam destaque principalmente pela homenagem a Andrzej Wajda (falecido aos 90 anos no último 9/10), com uma retrospectiva de 17 de seus filmes, além da exibição em versão restaurada do Decálogo, de Krzysztof Kieslowski (1941-1996).

Mas a Mostra também presenteou seu público com exemplares do que há de valioso sendo feito pela nova geração polonesa. Dois destaques ficaram por conta de Estados unidos pelo amor (Zjednoczone Stany Milosci, 2016), de Tomasz Wasilewski, e Todas essas noites sem dormir (Wszystkie Nieprzespane Noce, 2016), de Michal  Marczak.

No primeiro filme a estética clássica daquela cinematografia lhe é fiel aqui e aparece ao nos remeter à uma precisão fotográfica. Ela (a fotografia) traduz com sobriedade o espírito da paisagem geográfica que vemos ali, assim como a paisagem humana, com personagens frios, abnegados, objetivos.

No caso, falamos de quatro mulheres ao qual Estados unidos do amor detém-se em sua perspectiva de vida, cada uma com seu tempo particular no enredo, mas sem dissociação, ligadas por uma escola.

Há ainda um elemento temporal fascinante. O filme se passa no final dos anos 1980, apos a queda do Muro de Berlim., e é curioso ver esse filme de época retratando uma cultura tão particular.

Pelo enredo conhecemos os “estados” de cada uma das protagonistas que as unem pelo amor.  Na verdade, é o sexo com a solidão que pontuam a vida de todas elas. A primeira é uma esposa católica em conflito com o marido, a religião e seus desejos; a segunda é a diretora de uma escola.

Ela não administra com sanidade o fim de um caso de seis anos com um homem casado; e a terceira, uma tímida e solitária professora de meia-idade, dessa escola, que tenta aproximar-se sexualmente da quarta mulher, uma jovem heterossexual, professora de ginástica (e irmã da diretora da escola) que sonha em ser modelo.

Estados unidos pelo amor desenho um retrato duro dessas mulheres solitárias. Não se esconde em alegorias para falar explicitamente da solidão e da carência com seus respectivos efeitos, e deixa o espectador lado a lado do sofrimento e angustia de suas mulheres. O filme foi premiado pelo roteiro em Berlim 2016.

A FESTA NUNCA TERMINA – É grande a tentação de fazer ilações e referências entre Todas essas noites sem dormir com filmes emblemáticos sobre a juventude pautada pela música, festas, pelo hedonismo, como Trainspotting: Sem limites (1996), A festa nunca termina (2002), Body rice (2006) ou Eden (2014), mas seria uma relação pequena, se assim seguirmos com ela.

 

Isto porque Todas as noites… possui um ritmo seu, quase aleatório na narrativa, da mesma forma como predomina o funcionamento da lógica juvenil. E com o filme, digamos, seguindo estes instintos – que incorpora em sua edição – somoo tomados por uma empatia com as descobertas do jovem Krzysztof (Krzysztof Baginski).

E assim, transcorrido quase que inteiramente dentro de festas ao longo de diversas noites polonesas, vamos vendo a personalidade e maturidade de Krzysztof serem moldadas.

Partimos do jovem tímido que é Krzysztof, e sem muito jeito com mulheres, enquanto acompanha seu melhor amigo – nas baladas e raves; daí passamos pelo Krzysztof que conhece a primeira paixão Micha (Michal Huszcza) – no caso, a ex-namorada de seu melhor amigo (Eva Lebuef) – até o momento do desligamento com ela e o experimento de outras sensações, incluindo as drogas. O personagem sai disso tudo com um único elemento que o acompanhou durante esse trajeto: o prazer em dançar.

Para bem embalar o protagonista aqui, o diretor Marczak se apropriou de talvez o maior número de trechos de boa música para dançar (dentro do gênero eletrônico) que conhecemos já empregados num filme. Uma quantidade algo entre 30 e 40 músicas, sendo duas delas, pelo menos, da dupla polonesa Skalpel, com seu nu jazz.

Importante dizer que elas [as músicas] não funcionam de forma “videoclíptica”, mas com um sentido específico de dar sensações que variam conforme o modus operandi do protagonista. E que essa é também uma forma inteligente de pensar a edição de um filme.

Na verdade é uma forma desafiadora que, em Todas essas noites… sai-se  mais que vitoriosa. Sai-se vibrante a ponto de fazer um jovem espectador (inclusive aqueles com a juventude no espírito) querer imediatamente ir a uma festa polonesa.

– Viagem a convite da Mostra

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