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Críticas

O bom cinema espanhol e o mestre Robert Bresson

Comentários sobre os filmes “Espinha do Diabo”, “As Bodas”, “Harry Veio pra Ajudar” e “Olhar de Anjo”

Por Luiz Joaquim | 15.02.2018 (quinta-feira)

publicado originalmente em 19 de outubro de 2001 na coluna de cinema do extinto site Tô na boa

Atmosfera cinematográfica apimentada agita essa semana (19.out.2001) no Recife. A primeira (boa) surpresa é a estréia de A Espinha do Diabo (El Espinazo Del Diablo, Espanha, 2001) no Art Guararapes. Além do aspecto positivo dessa produção, dirigida pelo mexicano Guillermo Del Toro, ser um filme que tem algo a dizer, outro bom fator está vinculado sua estréia no Recife. Ela obriga os cinéfilos da cidade a se deslocar para o Art Guararapes. A ação é benéfica sim, se o público atentar que os dois cinemas do Shopping Guararapes podem tornar-se uma janela de filmes alternativos – uma vez que sua distribuidora (a Art Films) detém os direitos de exibição de ótimas películas alternativas (A Sombra do Vampiro é a sua mais nova aquisição, e deve chegar em novembro nos cinemas). Ou seja, se um filme como A Espinha do Diabo, lota a sala, os programadores certamente vão repensar (para melhor) os futuros lançamentos nos Art 1 e 2.

A Espinha do Diabo conta a história de um garoto órfão, vivendo num orfanato, em plena Guerra Civil espanhola nos anos 30. Lá, ele encontra o fantasma de um outro garoto nos corredores da casa e passa a ter uma relação estranha com o mesmo. O paralelo que dá interesse ao filme de Del Toro está na transferência do terror para o mundo dos vivos, e não o dos mortos (como habitualmente acontece nas produções de horror). Atenção para presença de Marisa Paredes, sem as pernas, e sua  relação com Eduardo Noriega.

No habitual reduto de filmes alternativos da cidade, o Cinema da Fundação, o russo As Bodas (Svabda, Federação Rússia/Alemanha, 1999), de Pavel Lungi, entra cartaz para mostrar como está o epicentro político da ex-união soviética anos após o fim do regime comunista. Não vá pensar que se trata de um filme político, mas não há como evitar o nosso olhar para o estranho e divertido comportamento dos russos engatinhando nas agruras do capitalismo. O pano de fundo é uma história romântica, adocicada por bastante alegria. Uma modelo volta da Rússia para sua terra natal determinada a casar com seu paquera de infância. Hoje, ele é um rapaz honesto e atrapalhado, que vive das migalhas que arrecada trabalhando como minerador. Encantado com a proposta da modelo, ele não hesita em aceitar o matrimônio e nem desconfia do segredo que ela esconde.

Há também, em caráter de pré-estréia, amanhã (20) no Cinema da Fundação, Harry Veio Para Ajudar (Harry, un ami Qui vous veut du bien, França, 2000). O filme de  Dominik Moll conta a história de um estranho que chega a uma fazenda decadente para resolver os problemas de seus proprietários. O curioso aí é até onde ele vai para ajudar seus novos amigos. Há, ainda no Derby nesse domingo (21), uma obra-prima do cinema francês: O Batedor de Carteiras (Pickpocket, 1959). Roteirizado e dirigido por Robert Bresson, o filme apresenta um gatuno iniciante que encontra a redenção no amor. Rodado depois de Um Condenado a Morte Escapou (1956), o longa expressa bem a marca do cineasta: um estilo solto e de visual abstrato, que concentra-se nos detalhes dos objetos para criar um senso de ausência do tempo; muito som natural e uma estrutura de narrativa elíptica para criar suspense e a sensação de isolamento de seus personagens. E O Batedor de Carteira só dura 1h15min. É uma aula de cinema.

Pra concluir, falamos da única estréia dos multiplex. Olhar de Anjo (Angel Eyes, EUA, 2001) apresenta Jennifer Lopez como uma policial solitária e dedicada ao trabalho. Para se ter uma idéia, ela foi responsável pela prisão do pai que batia em sua mãe, aqui vivida por Sonia Braga. Até que um dia a fria policial é salva por um estranho (Jim Caviezel, de Além da Linha Vermelha) e vai, aos poucos, sendo cativada pelo misterioso rapaz. Sua paixão pelo estranho só é abalado pelo misterioso passado do jovem, que insiste em manter segredo para a nossa heroína.

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