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Críticas

Os Outros

Fantasmas, ladrões, Marlon Brando, Bresson e uma enfermeira enchiam a tela em 2001

Por Luiz Joaquim | 17.04.2018 (terça-feira)

–Publicado originalmente em 3 de novembro de 2001 no site Tô na boa

Overdose de novas opções no cinemas da cidade. Nos multiplex, quatro filmes entram em cartaz. Quem encabeça a lista de atrações é Os Outros (The Others, EUA, 2001). O diretor Alejandro Amenábar fez seu debut num longa-metragem em 1995. Era Morte ao Vivo (Thesis, Espanha). Já nessa primeira experiência, Amenábar cuidou da trilha sonora do trabalho além da produção (tendo o roteiro sido assinado por ele). Tudo isso apenas aos 23 anos. Morte ao Vivo é a prova viva de que talento (objeto que não se vende nos supermercados) é o ingrediente determinante para qualidade. Amenábar repete… não… se aprimora, agora, no seu terceiro longa Os Outros (o segundo foi Abre Los Ojos, de 1998 – recentemente refilmado para o ‘americanês’ por Cameron Crowe, de Quase Famosos).

Os Outros nos apresenta a família de Grace (Nicole Kidman). Numa isolada ilha da Grã-Bretanha, ela reside numa mansão vitoriana, no final da Segunda Guerra. Seu marido foi lutar no front e, sozinha na casa, ela cuida dos dois filhos portadores de uma doença rara. Uma fotosenssiblidade que não lhes permite acesso à claridade maior que o produzido por uma vela. Só essa premissa, com imposição de penumbra, já dá a medida do tom macabro ao filme. Apimentando, a garota mais velha comenta com sua católica mãe que vê pessoas perambulando pela casa, em particular um menino misterioso chamado Victor.

Amenábar mostra-se um exímio domador de tensão e medo, dosando na metragem certa, luz, música, contenção e explosão dos seus personagem em instantes, não se engane, milimetricamente pensados para o espectador dar saltos na cadeira. O filme não está inventando a roda do susto. O tema ‘vivos se comunicando com fantasmas’ já rendeu várias pérolas desde que Polanski criou a coitada da Rosemary (Mia Farrow) e seu bebê, há 33 anos. Mas Os Outros é competente e certamente vira a tornar-se o próximo O Sexto Sentido, por todas as boas semelhanças.

MAIS – Estréia nos multiplex também o Gostosa Loucura (Crazy/Beautiful, EUA, 2001), de John Stockwell. Aqui, Kirsten Dunst (de As Virgens Suicidas) é  Nicole Oakley, uma jovem rebelde e rica, que estuda no Pacific Palisades High e se apaixona por um jovem trabalhador e pobre, que vive em East L.A. Após algum tempo eles passam a namorar, mas para provar que realmente amam um ao outro precisarão enfrentar todas as complicações que seus parentes e amigos colocam em seu relacionamento. Você já viu essa história.

Outra estréia chama-se A Cartada Final (The Score, EUA, 2001). O filme é de Frank Oz e tem a lenda Marlon Brando em cena por 15 minutos. Isso já vale uma ida. A sinopse diz que Nick Wells (Robert De Niro) é um criminoso profissional que decidiu abandonar a vida de crimes, após quase ser capturado em seu último assalto. Nick pretende agora levar uma vida pacata com sua namorada Diane (Angela Bassett), que coordena seu clube de jazz em Nova York. Até que Max (Marlon Brando), seu grande amigo e financiador de Nick em seus trabalhos ilegais, lhe faz uma oferta impossível de recusar: o roubo de um histórico cetro francês que havia sido descoberto recentemente e que estava em exibição na cidade. Para ajudá-lo, Nick convoca um jovem, talentoso e agressivo ladrão (Edward Norton).

Chega, atrasadíssimo, também o Enfermeira Betty (Nursy Betty, EUA, 2000), de Neil LaBute (vide o ótimo Na Companhia de Homens e o regular Seus Amigos, Seus Vizinhos). Aqui LaBute nos brinda com Renee Zellweger (O Diário de Bridget Jones) fazendo a enfermeira do título do filme. Uma agente da saúde que está mais interessada na telenovela ‘Uma Razão para Amar’ para esquecer seu péssimo casamento. Tudo acontece numa cidade do interior e conta com um elenco afiado: Morgan Freeman, Chris Rock e Greg Kinnear.

CINE VERDAMARELO – E dia 5 de nov. é o dia do Cinema Nacional. Grande redes exibidoras (Cinemark, UCI, GSR) estão promovendo a semana do cinema brasileiro para comemorar. Assim sendo, de 5 a 9 de novembro, o multiplex recifense passa cinco filmes tupiniquins (1 por dia), ao módico preço de R$ 1,00. Acontece nas primeiras sessões de cada dia. A programação é assim: Dia 5: O Alto da Compadecida. Dia 6: Eu, Tu, Eles. Dia 7: Bossa Nova. Dia 8: A Partilha. Dia 9: Bicho de Sete Cabeças.

O Cinema da Fundação faz a pré-estréia de Tempo de Embebedar Cavalos (Zamani Baray’e Masti Asbha, Irã, 2000), de Bahman Ghobadi. Aqui temos uma chance excelente para dar uma espiada em como pode ser miserável a vida que algumas crianças levam no Oriente Médio – região tão comentada nos dias de hoje e tão pouco compreendida. Na história, cinco irmãos (um deles é Nezhad Ekhtiark-Dini) se viram para arrumar um dinheiro que possa pagar o burrico que a mãe deles deixou como dívida antes de falecer. Também no Derby, o francês curioso Harry – Um Amigo que Veio Para Ajudar entra na sua segunda semana. E no domingo, tem o clássico O Batedor de Carteira (Pickpocket, França, 1959), do genial maestro das imagens Robert Bresson.

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