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Críticas

O Pântano

Um cinema sensorial

Por Luiz Joaquim | 16.08.2018 (quinta-feira)

– publicado em julho de 2005 no jornal Folha de Pernambuco

A estréia da sessão de arte do Grupo Severiano Ribeiro de hoje é o belo e incompreendido O pântano (La Ciénaga, Arg., 2001), de Lucrecia Martel. Como a obra coerente que é, O pântano tem em sua abertura uma das sequências mais perturbadoras produzidas pelo atual cinema latino-americano. Funcionando num patamar mais sensorial e menos visualmente cognitivo, essa sequência é a introdução perfeita para o que virá dali por diante.

Na tal abertura, duas famílias estão veraneando numa casa no nordeste argentino e tomam sol, brincam e bebem a beira de uma piscina. Nenhuma palavra e dita, apenas sons alimentam imagens de um arrastar melancólico de cadeiras em busca de sol ou sombra. O local fica a 90 quilômetros de La Ciénaga, no povoado de Rey Muerto, próximo ao sítio La Mandrágora, onde se cultivam pimentões vermelhos. A mandrágora é uma planta que se usava para aliviar a dor de uma amputação. Aqui a planta representa a casa de veraneio.

A estrutura mostra uma mulher, Mecha (Graciela Borges) de meia idade com o marido e quatro filhos. Há ainda Tali (Mecedes Moran), prima da Mecha, também com mais quatro filhos e um marido. Essas duas famílias, quase voltam ao primitivo representado pela atmosfera quente e sufocante do verão argentino em destaque no filme. Lama, suor e chuva se misturam nessa obra para ressaltar, em delicada metáfora, a debilidade do ser humano a partir do ambiente que o cerca.

O Pântano recebeu o prêmio Alfred Bauer no Festival de Berlim, e quatro prêmios no Festival de Havana, incluindo direção e atriz para Graciela Borges.

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