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Críticas

A Conquista da Honra

A sociedade do espetáculo

Por Luiz Joaquim | 06.09.2018 (quinta-feira)

– publicado originalmente em 02 de Fevereiro de 2007 no jornal Folha de Pernambuco

Há 15 anos, Clint Eastwood retornou ao estrelato do cinema por uma faixa nobre. Com Os imperdoáveis, vencedor de quatro Oscars, não só resgatou o mais autêntico dos gêneros norte-americano no cinema, o western, como também re-inaugurou uma carreira, na época aos 61 anos, como diretor de extrema habilidade para retratar intrínsecas questões da natureza humana. Como exemplo disso, e excluindo algumas pérolas realizadas antes daquele ano, podemos listar As pontes de Madison, Sobre meninos e lobos e Menina de ouro, só para ficar com três.

Hoje chega aos cinemas A conquista da honra (Flags of our fathers, EUA, 2006). Esta é a primeira de sua perspectiva (a segunda é “cartas de Iwo Jima”, que estréia dia 16) sobre a guerra, outro gênero caro à cinematografia ianque. Ambos os filmes falam da batalha que ocorreu em 1944, na Ilha de Iwo Jima, no oceano Pacífico.

O primeiro – indicado ao Oscar 2007 pelo som e edição de som – apresenta o ponto de vista dos norte-americanos para uma batalha que foi fundamental para vitória. O segundo – falado em japonês e indicado aos Oscars 2007 de melhor filme, direção, roteiro original e edição de som – traz a visão dos soldados do Japão, destacando o sacrifício deles para defender seu pais.

Em A conquista da honra, Eastwood usa a guerra, ou a conquista do Monte Suribachi, na ilha Iwo Jima, para lançar questões sobre a fome da sociedade norte-americana por ídolos que lhes reconfortem. Sendo mais preciso, Eastwood agarra-se a um fato específico daquele combate que foi o registro fotográfico do hasteamente da bandeira norte americana no topo do Suribachi e da postura marqueteira do governo norte-americano em transformar os atores daquela foto em heróis instantâneos com o objetivo cristalinos de arrecadas bônus da população e assim continuar financiando a guerra.

Eastwood escancara que, naquele momento, o foco que se dava ali estava mais interessado no ato nada heróico dos soldados (Ryan Phillippe, Jesse Bradford, e o ótimo Adam Beach) em hastear uma bandeira, e menos nos malefícios que a guerra causou a eles. Por esse caminho, vemos cada um dos “heróis” questionar sua posição diante do circo montado pelo governo e a real validade da guerra.

A conquista da honra não é o melhor de Eastwood, nem tampouco o melhor filme de guerra, mas é importante documento para se avaliar isto que antes era conhecido com homo sapiens e hoje se chama homo scaenicus. Está é uma questão que está melhor desenvolvida pelo jornalista Neal Gabler no livro “Vida: O filme”, no qual fala que o show-business e o entretenimento transformaram e vêm moldando a realidade.

Talvez a melhor seqüência do filme que valida a estupidez americana pelo espetáculo inócuo apareça quando o personagem vivido por Beach está capinando, já esquecido pela glória, e é abordado por uma família que, pateticamente, lhe dá uns trocados para tirar uma foto ao seu lado. Ao lado daquele que um dia foi inventado como herói nacional.

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