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Festivais

6. DCine (2002) – premiação

“O Encontro” foi o melhor filme e o diretor ganhou um automóvel! Mundo Livre S. A. tocou no encerramento

Por Luiz Joaquim | 21.04.2019 (domingo)

– publicado originalmente no Jornal do Commercio (Recife) em 19 de maio de 2002 (quinta-feira)

CURITIBA (PR) – Era uma empolgação só quando o ator gaúcho Werner Schünemann (Netto Perde Sua Alma), apresentador oficial do 6º Festival de Cinema, Vídeo e Cinema Digital (DCine) de Curitiba (FCVDC), na noite da última terça-feira (14/5/2002), anunciava os vencedores do evento. A cada instante, Schünemann bradava: “18 mil freqüentadores em seis dias de Festival”. O orgulho tinha razão de existir, uma vez que o FCVDC nunca foi um sucesso de público. O grande vilão contra quem a diretora geral do Festival, Clóris Ferreira, sempre trava luta é o frio, sugerindo ao curitibano, quase sempre, ficar em casa.

Foi só no terceiro dia do evento que se formou uma confusão de gente no hall do Espaço Cultural Canal da Música – um auditório com cerca de 800 poltronas transformado em cinema pela mesma equipe que transfigura o Teatro Guararapes durante o festival recifense. Filmes como O Invasor, de Beto Brant, em cartaz nesse dia, mostrou que uma boa programação pode funcionar como aquecedor. Na segunda-feira, uma multidão também se empurrava nos corredores para assistir Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho. Havia um interesse secundário aí: a expectativa pela presença (não confirmada) da atriz curitibana Simone Spoladore no palco.

A mostra de longas não é competitiva nessa cidade, e, pela seleção dos títulos (todos ainda inéditos na capital paranaense – incluindo aí Bellini e A Esfinge, de Roberto Santucci Filho) revelasse a limitação da rede exibidora curitibana. A mostra de longas encerrou com Viva São João, de Andrucha Waddington.

Cena de “O Encontro”

CURTAS E VÍDEO – A competição do FCVDC fica entre os curtas de 35mm e 16mm (disputando, entre si, um carro zero km), os vídeos e os DCines (uma câmera digital para cada um). O grande vencedor da noite (por unanimidade do júri)  foi o 35mm O Encontro, do curitibano Marco Jorge; além do carro, Jorge venceu pela votação da imprensa, do público, deu a Lui Strassburger o prêmio de melhor ator e ganhou o título de melhor ficção e montagem. O Encontro é uma brincadeira com a narrativa do cinema clássico, e, de maneira surreal, mostra um casal brincando com citações de filmes.

Uma prova de que manifestação bairrista em festivais de cinema não é exclusividade pernambucana, aconteceu durante a projeção do filme Do Tempo Que Eu Comia Pipoca, de Catherine Agniez e da curitibana Heloísa Passos (fotógrafa radicada em São Paulo). Em ritmo e estética de comercial de cigarro cool, mostrando o retorno à Curitiba de uma paranaense cheia de nostalgia, e seu sugerido (apenas sugerido) poético encontro com um desmemorado (Roberto Ferrarini – o ator de cinema mais prolífico da cidade), o curta ficou com o título de melhor trilha musical.

Um dos destaques da mostra de vídeo “Festival dos Festivais” (classe sem prêmios, para trabalhos já premiados em outros eventos), foi o carioca Branco, de Edmundo Dan. O vídeo deixou a quieta platéia curitibana de queixo caído com a verossimilhança mostrada na primeira e exclusiva entrevista com o traficante Zezinho do Branco, o gênio do crime no Brasil – o procurado número 1 pela Policial Federal. Na entrevista, o bandido revela que sempre sonhou ser um filósofo reconhecido. Com imagens sujas e nervosas, Branco é uma espécie de Bruxa de Blair carioca, tendo como condimento o humor, no lugar do horror. Mas quem levou o prêmio da competição em vídeo foi mesmo um paranaense – Sonetos, de Carlos Rocha e Eduardo Baggio, fazendo uma representação audiovisual da obra do poeta Avelino de Araújo.

Sobre os curtas em 16mm, além do consagrado Um Sol Alaranjado, de Eduardo Valente, vale o registro para Passageiros de Segunda Classe, dirigido por Luiz Eduardo Jorge, Kin-Ir-Sen e Waldir de Pena, que apresenta um olhar cru e doloroso do extinto manicômio Adauto Botelho, de Goiás, trazendo a luz a pior degradação humana.

Da mostra Dcine – com curtas feitos com tecnologia digital e transferidos para película (cuja programação ressente a ausência de Lugar Comum, de Leo Falcão), o mineiro, Duralex Sedlex, de Luciana Tanure, Henrique Silveira e Marília Rocha, foi o vencedor angariando muitos aplausos pelo carinho e forma original como registrou a vida do técnico José Japonês, um velhinho humilde cuja existência dedicou para consertar projetores de cinema. A celebração da imagem filmada em Curitiba encerrou na madrugada da quarta-feira, no espaço Er Só O Que Faltav (escrito assim mesmo), com o show do Mundo Livre S A. – momento esperado com bastante ansiedade por uma juventude ávida pelo mangue.

Leia sobre o seminário #1 do “Encontro de Críticos” clicando aqui. E leia sobre o seminário #2 e #3 clicando aqui.

6º FESTIVAL DE CINEMA, VÍDEO E DCINE DE CURITIBA – PREMIAÇÃO

FILME (curtas 35mm e 16mm)
– Festival dos Festivais – “Retrato Pintado”, de Joe Pimentel (CE)
– Melhor Filme (carro 0 Km e troféu pinhão) – “O Encontro”, de Marcos Jorge (PR) por unanimidade
– Melhor Filme de Ficção – “O Encontro”, de Marcos Jorge (PR)
– Melhor Filme Documentário – “Dadá”, de Eduardo Vaisman (RJ)
– Melhor Filme Animação – “Onde Andará Petrúcio Felker”, de Allan Sieber (RJ)
– Melhor Roteiro – “Negócio Fechado”, de Rodrigo Costa (RJ)
– Melhor Direção – “Dadá”, de Eduardo Vaisman (RJ)
– Melhor Ator – Lui Strassburger, de “O Encontro”
– Melhor Atriz – Célia Ribeiro, de “O Traste”
– Melhor Direção de Fotografia – Antonio Luiz Mendes, de “Ilha” (SC)
– Melhor Direção de Arte – Valéria Valadão por “Homem Voa?” (SP)
– Melhor Som – Saint Claire, por “Ilha” (SC)
– Melhor Montagem – Cristina Amaral por “O Encontro” (PR)
– Melhor Trilha Sonora – Jaime Zenamon por “Do Tempo Que Eu Comia Pipoca” (PR)
– menção honrosa do júri para:

– “Chama Verequete”, de Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira (PA)

– “Zagatti”, de Edu Felistoque e Neren Cerdeira (SP)

–  “À Margem”, de João Carrilho (Portugal)

TROFEU RUI GUERRA (voto do público)

– “O Encontro”, de Marcos Jorge (PR)

VÍDEO
– Festival dos Festivais- “Sem Terra”, de César Meneghetti e Elizabetta Pandimiglio (Itália)
– Melhor Vídeo – “”Sonetos”, de Carlos Rocha e Eduardo Baggio (Paraná)
– Melhor Vídeo Documentário – “Fiel da Balança”, de Francisco Colombo (Maranhão)
– Melhor Vídeo Animação – “Fear and Fight – Ruas de Discórdia”, de Ney Pimenta Júnior (Minas Gerais)
– Melhor Roteiro – “A Triste Partida”, roteiro de Flávio Meirelles (São Paulo)
– Melhor Edição – “O Rei Está Doente” editores: Eduardo Baggio e Adriano Justino (Paraná)
– Melhor Direção – “Quem Sabe”, de Wilson Lazaretti (Campinas)

O júri, por unanimidade, resolveu não conferir o prêmio de melhor vídeo de ficção por considerar que nenhuma obra selecionada reuniu as qualidades mínimas para premiação, em relação aos vídeos inscritos e apreciados nas outras categorias.

DCINE
– Melhor Dcine – “Duralex Sedlex”, de Luciana Tanuri, Henrique Silveira e Marília Rocha (MG)
– Menção Honrosa – www.virtualrealidade.com.br, de Maurício Yared (PR)

TROFÉU ARAMIS MILLARCH (voto da imprensa)
– Melhor Filme – “O Encontro”, de Marcos Jorge (PR)
– Melhor Video – “Sonetos”, de Carlos Rocha e Eduardo Baggio (Paraná)
– Melhor Dcine – “Duralex Sedlex”, de Luciana Tanuri, Henrique Silveira e Marília Rocha (MG)

MOSTRA UNIVERSITÁRIA
– Melhor Vídeo Ficção – “Mascarrar” (UNICENP)
– Melhor Vídeo Documentário – “Skate” (Unisinos – RS)

Prêmio Estímulo Copel/ Ney Braga (Melhor Roteiro de autor paranaense)
– Melhor Roteiro – “Vovó Vai Ao Supermercado”, de Valdemir Milani
– Menção Honrosa – “Quando Jorge Foi À Guerra”, de Tadao Miaqui

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