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Os 1970s que Amamos (#23)

Shampoo (1975)

Por André Pinto | 28.04.2021 (quarta-feira)

1968. EUA enfrenta o auge da luta pelos direitos civis, a era da contracultura se aproxima do seu fim e os EUA chegam ao final de mais uma eleição presidencial. Richard Nixon finalmente conquista o cargo.

George Roundy (Warren Beatty), famoso cabeleireiro de madames em Beverly Hills  entra em crise existencial. Seu dilema é continuar mantendo a vida boa de conquistador, levando para a cama as mulheres mais belas de Los Angeles ou montar seu próprio negócio, se casar e ter uma família. Numa primeira ação para conseguir empréstimo e comprar um imóvel comercial, Roundy esbarra justamente com as consequências de suas aventuras amorosas: ao pedir a ajuda de Felicia (Lee Grant), um de seus casos, ela arranja um encontro entre o cabeleireiro e o seu marido, Lester (Jack Warden). Aos se conhecerem, Roundy descobre que o empresário tem um caso com Jackie (Julie Christie), uma grande amiga e um antigo amor. A paixão entre os dois reacende, tumultuando um outro relacionamento entre o cabeleireiro e a modelo Jill (Goldie Hawn).

Originalmente um projeto de Warren Beatty, Shampoo contou com o reforço de Robert Towne no roteiro, e a competência de Hal Ashby na direção. O resultado foi um filme que, em 1975, foi considerado o maior sucesso da Columbia Pictures. Notória por ser considerada uma comédia sexy, a obra merece uma revisitada justamente por ser boa radiografia sobre a ascenção do conservadorismo nos primeiros anos da década de 1970. A história faz questão de colocar tintas políticas sutis numa aparente trama banal de troca de casais. O choque entre stablishment e antistablishment é espertamente estabelecido.

Beatty, em plena ação como Shampoo

Na cena climática e já famosa do filme, temos uma festa republicana onde todos os convidados acompanham a contagem de votos das eleições. Nixon é o fantasma ameaçador do conservadorismo cintilando em todas as tevês ligadas no evento, e de forma hilária, alguns personagens presentes teimam em quebrar toda a sisudez do momento: É a contracultura usando suas armas através da Jackie tentando transar com Roundy na frente de todo mundo, sob os olhares de um velhinho (o diretor William Castle, numa ótima ponta).

Ao mesmo tempo, uma outra festa ocorre em outro ponto de Los Angeles, e representa o último resquício de “evento pagão de paz e amor”. É para lá que vão os personagens principais, no finzinho da noite. É lá que os nós finais da história são desatados. O filme é estratégico em mostrar através de fina ironia o otimismo pelo que os EUA passavam no alvorecer de uma década, considerando que o filme é de 1975 e, portanto, analisado sob uma ótica pós-Watergate.

Interessante notar dois pontos: a relação estreita que o filme tem com Era uma vez em Hollywood, de Tarantino. A vibe da Los Angeles de Shampoo é a mesma. Warren Beatty moldou o personagem narcisista e mulherengo do Roundy a partir do cabeleireiro Jay Sebring, uma das vítimas do assassinatos cometidos pela família Manson em 1969.

O outro ponto é a relação entre o personagem Roundy e o próprio Warren Beatty. Notório machão conquistador, Beatty, ao contrário do cabeleireiro protagonista, parece não ter passado pelo mesmo dilema existencial: durante as filmagens já namorava oficialmente Julie Christie, mas ao mesmo tempo teve um caso com Goldie Hawn, para logo depois flertar com Carrie Fischer, estreante no cinema.

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