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Críticas

Hedwig: Rock, Amor e Traição

Poesia visual assexuada por uma polegada furiosa

Por Luiz Joaquim | 30.08.2022 (terça-feira)

– texto originalmente publicado no extinto site Tô na Boa, em 16 de novembro de 2001

O Cinema da Fundação [Recife] dá um furo em todos as salas alternativas fora do eixo Rio-SP. É que a salinha do Derby está lançando Hedwig – Rock Amor e Traição (Hedwig and The Angry Inch, EUA, 2001) simultaneamente com as principais salas do Sudeste. O filme está, merecidamente, sendo cantado como a produção alternativa queridinha do ano. Já faturou prêmio de direção e público no festival-mor dessa categoria (o Sundance, nos EUA), além de seu texto já vir respaldado por uma carreira de sucesso nos trabalhos off-Broadway, entre 98 e 2000.

A  trama de Hansel,  o garoto da Alemanha Oriental que vira Hedwig, a transformista-roqueira desprezada nos EUA, foi originalmente concebida para o palco. O ator, autor, diretor John Cameron Mitchel foi o responsável pela delicada, eficiente e emocionante transposição de tudo para a tela grande. Quando Hedwig (Mitchel) é abandonada por Luther, ela decide dedicar-se à paixão de sua vida: o rock. Junto com alguns amigos do Leste Europeu, ela monta uma banda underground que se apresenta numa cadeia de restaurantes de frutos do mar nos Estados Unidos. Por meio de lamentações, monólogos e canções, Hedwig conta a turbulenta história de sua vida a clientes perplexos com o que ouvem. O filme é tocante e imperdível. Prestem atenção na canção The Origin of Love, utilizando-se da obra de Platão para tecer teorias sobre a origem do amor.

CACHIMBO – Aporta nos multiplex a esperada adaptação para o cinema de O Xangô de Baker Street, romance best-seller de Jô Soares que, na versão audiovisual, dirigida por Miguel Faria Jr (de Stelinha), recebe o mesmo nome e ganha Joaquim de Almeida  (de A Balada do Pistoleiro) interpretando o famoso detetive britânico.  O Xangô… , o filme, é apenas uma concha de retalhes de luxo que une situações esdrúxulas para montar piadas sobre um conceituado londrino no Brasil Colonial. Só isso deveria ser suficiente para criar um filme envolvente. Mas o roteiro frouxo deixa o espectador alheio ao fio condutor da trama, o que não estimula a ansiedade, tão básica aos suspenses. Não se pode deixar de dar crédito, porém, a admirável direção de arte da produção, a qual serve como atestado do profissionalismo do cinema nacional (em termos técnicos). Quanto ao talento com a mise-en-scène fica um parênteses.

Tem mais duas bobagem estreando nessa semana. Uma bobagem menor chamada Perseguição (Joyride, EUA, 2001), de John Dahl, e uma menor chamada Animal (The Animal, EUA, 2001), de Luke Greenfield. O menos bobo apresenta um jovem pronto a correr as estradas da América com a garota dos seus sonhos. No meio do caminho, acaba tendo de pegar seu irmão mais velho na saída da prisão. Em menos de um dia, o ex-detento coloca o caçula numa enrascada brincando com um caminhoneiro psicopata através do rádio-amador. O mérito desse filme é dar vontade de assistir os clássicos desse gênero: Encurralado (Duel, EUA, 1971) – primeiro longa de Spielberg (feito para a TV) – e A Morte Pede Carona (The Hitcher, EUA, 1986), de Robert Harmon, com os inesquecíveis Rutger Hauer, C. Thomas Howell e Jennifer Jason Leigh.

A outra estréia boba traz Rob Schneider (de Gigolô por Acidente) no menos feliz Animal. Schneider é um funcionário da polícia que, ao atender uma emergência, sofre um acidente e vai parar nas mãos de um médico excêntrico que muda seu código genético para o de vários animais: cabra, macaco, leão marinho e o de um cachorro, entre outros. A seqüência de confusões que se seguem são fáceis de imaginar.

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