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Críticas

Pelé Eterno (2004)

Pelé bate um bolão na tela grande. Documentário leva paixão pela bola ao cinema

Por Yuri Lins | 25.01.2023 (quarta-feira)

– texto originalmente publicado em 25 de junho de 2004, sexta-feira, na Folha de Pernambuco.

Qualquer intenção de realizar, em qualquer formato, a trajetória de Pelé em seu percurso futebolístico soa como um trabalho insano e exaustivo. E é. Prova disso transparece no documentário Pelé eterno (Brasil, 2004), filme do produtor e diretor Aníbal Massaíne Neto, que entra em três salas do Recife. O extenuante trabalho de sintetizar quase três décadas de glórias em 120 minutos era um sonho que Massaíne acalenta desde 1999, mas naquela época não havia tecnologia para moldar as imagens que sonhava imprimir. Curiosamente, a concepção gráfica de Pelé eterno é o único item que depõe contra a obra para não consagrá-la como um documentário à altura da majestade do futebol.

Massaíne uniu-se aos craques da crônica futebolística e do cinema para parir um filme de estrutura narrativa forte. Ou seja, Pelé eterno sustenta a atenção do espectador por duas horas, como uma bela decisão dentro de campo. Por trás do roteiro está José Roberto Torero, jornalista e cineasta consagrado nas duas áreas em que atua. Torero é auxiliado no texto por Armando Nogueira, nome respeitado por quem acompanha a história do futebol brasileiro. 

A condução do filme segue, até a sua primeira metade, uma linha cronológica pontuando a ascensão do garoto que nasceu para virar o atleta do século 20. Vai, sempre ricamente ilustrado com imagens, desde seu primeiro contrato com o Santos até a década de ouro do clube, quando Pelé foi campeão por oito vezes com a camisa santista. No segundo tempo, o filme dá recuos, saltos e avanços para ressaltar aspectos da vida empresarial, amorosa e “artística” fora do gramado pela qual o atleta trilhou. Mas o brilho na tela é gerado mesmo pela exuberância dos passes, traços e gols que Pelé realizou nos 21 anos de carreira profissional e não-profissional.

Entre os tesouros com o qual Pelé eterno presenteia o público estão imagens inéditas escarafunchadas pela produção do filme. A exposição das imagens merece bastante crédito, visto que, em se tratando de Pelé, imagens novas são raras. Dos 1.201 gols orquestrado pelo atleta, cerca de 300 estão no filme. Pela primeira vez, vem à tona cenas do menino Edson Arantes do Nascimento, aos 17 anos no Maracanã, marcando seus primeiros gols com a camisa do Vasco da Gama, no combinado Vasco/Santos. A estreia de Pelé, em 1957, com a camisa do Brasil e seu primeiro gol com a canarinha, também estão lá, assim como a cena em que o jogador atua como goleiro contra o Grêmio. Há ainda imagens do gol mais rápido do Rei, no Corinthians.

Para aquele que é considerado pelo próprio autor do gol, como o mais belo de sua história,  Pelé Eterno recria a jogada por imagens de computador. A histórica situação aconteceu em uma partida contra o Juventus, em 1959. O gol, conhecido como o da Rua Javari, não teve nenhum tipo de registro. Nem por imagens, nem por transmissão radiofônica. O resultado da animação, apesar de curiosa, mostra-se um tanto brega, como os próprios créditos de abertura do filme.  Com um texto flutuando entre o jornalístico e o lírico, Pelé eterno aproveita bem o folclore em torno do mito para, com humor, relatar casos como o do jogo, em 1968, em que foi expulso de uma partida na Colômbia, no qual a  torcida colombiana obrigou o juiz a sair de campo para trazer Pelé de volta. Rico em detalhes, Pelé Eterno chega como um legado visual para a nova (e velha) geração de torcedores da paixão nacional.

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