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Festivais

Festival Intern. de Cinema de Terror em Portuga, M

Mojica vai largar o terror?

Por Luiz Joaquim | 11.09.2008 (quinta-feira)

LISBOA (PT) – No atual momento de frenesis cinematográfica em que vive José Mojica Marins parece contraditório, mas, o cineasta já afirmou: vai deixar de produzir filmes apartir de 2010. A revelação foi feita pelo cineasta durante palestra proferida no último dia do Festival Internacional de Cinema de Terror em Portugal, o Motelx, sediado na cidade de Lisboa.

O criador do personagem Zé do Caixão encerrou a sua participação neste festival com uma conversa que teve com o público presente no auditório do Cinema São Jorge. “Tenho contrato com a produtora para fazer dois filmes até 2009, depois disso vou passar a bola para a minha filha Liz”, disse o cineasta.

Com uma lista de mais de 40 filmes produzidos José Mojica considera que fez muito para o gênero de terror no Brasil e no mundo, mas que em seu país os seus filmes foram poucos reconhecidos: “No Canadá e nos Estados Unidos as pessoas sabem a importância que tive para o cinema de terror no mundo. Durante 40 anos no Brasil eu fui capa de 40 revista nos Estados Unidos eu consegui isso em apenas um mês”, desabafa

Até chegar ao Encarnação do Demônio foram mais de quatro décadas de espera para a finalização do longa. Para além dos motivos financeiros, a repressão do regime militar da época fez Mojica desistir do projeto. Somente em 2000 o roteiro volta a ser pensado novamente. Mojica foi procurado pela sua atual produtora e juntos resolveram desenvolver o projeto.

“Tive que pensar muito como seria readaptar um roteiro inicialmente escrito para ser rodado na década de 60, não nos tempos de hoje. Pensei na possibilidade de um outro ator para me substituir, mas acho que fiz a escolha certa”, diz Mojica. Satisfeito com o resultado final, Mojica já tem dois novos filmes para ser lançados até o final de 2009.

Mestre em produzir filmes de terror de modo artesanal, para os próximos filmes Mojica não descarta a possibilidade das novas tecnologias: “Encarnação do Demônio foi todo rodado em 35 milimetros e os efeitos 100% artesanais. Para os próximos irei utilizar novos efeitos com computadores”, adianta.

Aos 72 anos, José Mojica sente-se orgulhoso da familía que tem e acredita no potencial da filha, Liz Marins criadora do personagem Liz Vamp. “Para fazer cinema de terror tem que haver uma paixão e a Liz tem isso. Apoiarei ela no que puder, ela será a minha sucessora”, conta.

Depois de ter sido convidado à participar do Festival de Cinema de Veneza e Lisboa, Mojica seguirá a divulgação do filme em terras espanholas, no festival de cinema de Barcelona City. Entusiasmado com a resposta do público português aos seus filmes, Mojica acredita que não só o dêmonio foi reencarnado, mas junto com ele a volta do gênero de terror: Acho que estes festivais abriram portas para o cine terror e teremos mais pessoas a trabalhar com isto daqui para frente.”

Festival Internacional de Cinema de Lisboa, MotelX

O retorno do Zé do Caixão às telas

Se todo cineasta tivesse que esperar 44 anos para dar continuidade a trilogia de um filme muito provavelmente o argumento deixaria de existir. Mas não foi bem isso que aconteceu com o último filme de José Mojica Marins, o famigerado Zé do Caixão.

O seu último filme Encarnação do Demônio tem rendido boa platéia por onde passa (ainda que no sul e sudeste do Brasil) e na Europa já foi registrou presença em Veneza e Portugal. Depois de ser homenageado no Festival de Cinema de Veneza , José Mojica provou que ainda representa o culto dos mestres vivos do terror nas telas.

Escrito pela primeira vez em 1966, Encarnação do Demônio é um filme que esteve engavetado por muitos anos. Foram várias as tentativas de rodá-lo mas, pelo caminho Mojica encontrou outras vicissitudes, inclusive financeiras que não permitiram a realização deste filme.

Encarnação do Demônio veio para fechar a trilogia iniciada na década de 60, com À Meia-noite Levarei a sua Alma (1964) e três anos mais tarde a realização do Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967) que assinala o segundo filme da trilogia.

O roteiro já tinha virado arquivo entre as relíquias pessoais do realizador. As quatro décadas foram suficientes para esgotarem os animos de produção. Antes das filmagens, Mojica pensou num substituto para o Zé do Caixão, mas foi feliz na escolha de mantê-lo 40 anos mais velho, o que eu mais originalidade ao personagem.

Encarnação do Demônio simboliza os tempos em que se fazia filmes de terror no Brasil em 35 milímetros e com técnicas artesanais. Essa foi uma escolha de Mojica que com o ressurgimento do seu trabalho não quis perder sua identidade e assim não abriu mão do modelo de produção por ele conhecido. Não que o filme viesse a perder muito com planos computadorizados, mas a necessidade de afirmação do diretor falou mais alto.

O trabalho de reconstrução do personagem para os tempos de hoje significou a aproximação mitologica da figura do Zé do Caixão com o século 21. Assim as pequenas vilas onde o Zé do Caixão da trilogia (representado pelo coveiro Josefel Zanatas) costumava andar foi substituído pela favela de São Paulo. O personagem pela sua fraqueza emocional e física também já não é o mesmo.

Entre tantas adaptações resta dizer que a conclusão de Encarnação do Demônio mostrou a resistência de um capítulo na história do cinema brasileiro ofuscado pelo desprezo e preconceito. Aquilo que Glauber Rocha chamou de parte oculta do cinema brasileiro, mas com certa visibilidade no exterior, hoje ressuscita em grande estilo. José Mojica conseguiu abrir as portas das salas de projeção para exibir um tipo cinema esquecido no Brasil.

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