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Festivais

42o Fest de Brasília (noite 6) – 2009

Glória Pires versão classe média

Por Luiz Joaquim | 23.11.2009 (segunda-feira)

BRASÍLIA (DF) – Em função do belo resultado que veio a ser “Durval Discos” (2002), primeiro e anterior longa-metragem de ficção da paulista Anna Muylaert, esperava-se uma agradável noite de domingo no 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com a exibição de seu novo trabalho “É Proibido Fumar” – com data de lançamento no circuito comercial próximo 5 de dezembro.

E a expectativa foi contemplada. Trazendo no elenco uma Glória Pires desglamourizada, como uma dona de casa paulistana de classe média, cinquentona e solteira, que vive solitária no apartamento que herdou da mãe; além de um Paulo Miklos absolutamente a vontade como um músico de restaurante, saudosista dos anos 1970, além de dócil e generoso, “É Proibido Fumar” desponta como um dos mais felizes filmes da recente produção brasileira que conjunga inteligência cinematográfica (além do emprego bem dosado do humor) com uma comunicabilidade fácil com seu espectador. Fica claro que Muylaert tem muito o que ensinar às “globochanchadas”.

Com o mesmo naturalismo que a diretora, roteirista e montadora nos sulgou para “Durval Discos”, nos transformando em amigos imediatos de seus personagens, a cineasta nos apróxima de Baby (Pires) e Max (Miklos). A história dos dois (e do filme) começa quando ele muda-se para o apartamento ao lado, e com um flerte discreto, que faz Baby voltar a dar atenção a si própria.

Corre solto a partir da concretização desse namoro uma relação de entrosamento e desconfiança – mais marcada por parte dela – que quer jogar luz sobre impecilhos tão marcantes nos relacionamentos de hoje: a desconfiança e falta de comunicação entre os casais, dando margem, aí, a algumas fumaças que confunde a visibilidade entre duas pessoas, como disse a própria Muylaert em entrevista aqui em Brasília.

Vale ressaltar que Pires aparece duplamente neste Festival, pois abriu a festa semana passada como Dona Lindu no filme de Fábio Barreto. É um momento feliz na carreira da atriz que, ressaltando sua participação em “Se Eu Fosse Você 2”, está presente em três longas sintomáticos da atual produção nacional, além de bem distintos. O que ressalta ainda mais sua performance diferenciada.

CURTAS
A competitiva de curtas na penúltima noite de disputa pelo Candango trouxe o baiano “Carreto”, de Cláudio Marques e Marília Hughes, apresentando um menino (Tinho) que trabalha levando carga num carrinho de mão. Num desses serviço, entra em contato com um universo poético e lírico por desenhos feito por uma menina (Stephanie Vitória). A afeição é imediata e a necessidade de ajudá-la é automática. Para ilustrar esse encontro, “Carreto” dosa silêncios e planos fixos que combinam com o próprio tempo de encantamento e felicidade das crianças. É um belo exemplo de filme potente, que usou menos carga pesada de produção e mais suor mental.

Seu concorrente da noite funcionou inversamente. O brasiliense “A Noite por Testemunha”, de Bruno Torres, preferiu chamar mais atenção para si – via firulas de engenharia de som, montagem e fotografia – de que para o assunto em questão, contraditoriamente ao discurso do diretor na apresentação no Cine Brasília. O filme reproduz a noite em que cinco jovens queimaram um índio pataxó, que dormia numa parada de ônibus, em 1997. Bruno disse que quer chamar a atenção das pessoas para o fato de que nem todos tem os mesmos diretos no Brasil, mas “A Noite…” soa apenas como um exercício padrão cinematográfico, pelo qual o diretor e equipe mostram serviço na boa execução das tarefas, tropeçando, entretanto, no exagero comprometendo seu discurso.

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