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Festivais

12o. Bafici (2010) – dia 4

Depois da juventude, antes da loucura

Por Luiz Joaquim | 13.04.2010 (terça-feira)

É difícil alinhar os filmes do diretor Sang-soo Hong com a recente produção do cinema coreano. Enquanto a filmografia desse país sugere grife estilística em que grupo de realizadores mostra interesse evidente em embaralhar gêneros, os filmes de Hong parecem se estabelecer no ritmo de dramas de proporções intimistas, em que se levantar da mesa sem olhar nos olhos de determinada pessoa é talvez o grande evento dramático.

Talvez por isso o interesse narrativo deste cineasta, apelidado na cinefilia internacional de Eric Rohmer coreano, esteja mais vinculado a histórias a respeito de pequenas perdas emocionais do que sobre violência urbana.

“Like you know it all” (2009) fala sobre um diretor de cinema com propensão para o desastre emocional. Parece personagem ideal para Hong desenvolver comédia simples sobre as particularidades da mecânica cinematográfica, das relações humanas traçadas nos bastidores, desde o trabalho em cobertura de festivais até conversas com estudantes da área. São observações carregadas de humor ácido, e que não elimina a auto-crítica sobre o papel do cineasta.

O Bafici também abre janela para obras antigas que não possuem estatus de cânone dentro do consumo cinéfilo. É o caso de “Bronco Bullfrog” (1969), filme partidário do movimento cultural kitchen sink realism, estética que registrava interesse afetivo pela situação econômica e social da classe trabalhadora britânica dos anos 1950 e 60. É um trabalho que parece contar uma história pregressa ao que vemos na obra de Hong.

O filme fala sobre o processo de perda de ingenuidade e a entrada na vida adulta. Era época em que as brigas com valentões deixavam mais marcas na auto-estima do que no físico e o roubo não era encarado a partir de códigos morais, mas talvez como ato sentimental para se agarrar à juventude. O final, em que a inevitabilidade da passagem do tempo é contrastada com uma imagem deixada em suspense, sugere que talvez o cinema seja campo de batalha extra-realista.

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